Folha de S. Paulo


"Podem me chamar de velho gagá, mas cansei de tanto blá-blá-blá!"

Muitos brasileiros têm defendido uma postura de maior equilíbrio e racionalidade para evitar "uma guerra sangrenta", como disse uma atriz de 57 anos:

"Saí do Facebook, do Instagram e do WhatsApp quando percebi que, mesmo sem ter intenção, estava alimentando o clima de ódio, de intolerância e de falta de escuta. Ou você defende as mesmas ideias ou é considerado um demônio a ser destruído. Tenho muito medo da polarização radical: 'nós X eles', 'coxinhas X petralhas', 'ladrões X golpistas' etc.".

A atriz lamenta a violência presente nos dois lados: "Desde os black blocks de 2013 tenho tido pesadelos com o clima de violência, que só piorou desde então. Muitos amigos se tornaram militantes fanáticos, donos da verdade que não se abrem para ouvir os argumentos dos outros. Me tratam como uma inimiga a ser combatida só porque não quero aderir a nenhum dos lados".

Um engenheiro de 69 anos disse que não sabe mais o que é ser de direita ou de esquerda.

"Minha família está em guerra. Meus netos acham que é um golpe da direita, meus filhos querem se mudar para Miami, minha mulher quer que eu rompa com todos os meus amigos de esquerda e minha mãe, que tem 91 anos, quer que todos os corruptos morram na prisão. Quando me cobram uma posição tenho a desculpa perfeita: sou um velho dinossauro, não quero desperdiçar o meu tempo sendo cúmplice de uma guerra insana, prefiro investir no amor, na paz, no respeito e na gentileza".

Ele está deprimido por não conseguir enxergar uma saída para a crise do país.

"Podem me chamar de velho gagá, mas cansei de tanto blá-blá-blá raivoso! Não aguento mais a repetição de discursos que só estimulam a violência. Não suporto mais ver minha família se xingando na internet, amigos indignados quando digo que não quero ficar vomitando ódio contra aqueles que estão do outro lado. Muita gente se acha no direito de incomodar todo mundo com atitudes belicosas. O que mais me assusta é a violência e o ódio generalizado dentro e fora das nossas casas".

Ele pede um pouco mais de reflexão e serenidade: "A quem interessa a guerra que está destruindo o país? O que cada um de nós está fazendo para ajudar a encontrar uma saída pacífica? Vamos deixar o Brasil virar uma Venezuela?"


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