Folha de S. Paulo


Como enfrentar o medo?

Quase todo mundo que conheço demonstra uma enorme preocupação com a crise política, social e econômica e, também, com a violência.

Um professor de 47 anos disse: "Está cada vez mais difícil ser professor. Grande parte dos alunos participa e presta atenção na aula, outros ficam mexendo o tempo todo no celular e simplesmente me ignoram, e alguns são ostensivamente agressivos. Até parece que sou inimigo deles. Outro dia fiz uma pergunta e um aluno respondeu: sou contra. Perguntei: contra o quê? Ele só repetia: sou contra."

Ele conta o que faz para continuar seu ofício: "Tento dar a melhor aula que eu posso, não me foco nos olhares de ódio e de desprezo de alguns. Procuro me concentrar no interesse dos outros alunos. Sempre adorei ser professor, mas já pensei em me demitir. Preciso ter muita força interna para não me sentir um fracasso. Se eu ficar com medo deles e desistir, a minoria acaba vencendo e se fortalecendo para agir com ainda mais violência".

Uma médica de 66 anos disse: "As pessoas estão cada vez mais agressivas, estúpidas e grosseiras. É como se a barbárie tivesse vencido a civilização. Tenho muito medo do caos, com cada um agindo para defender seus próprios interesses e destruindo quem pensa diferente. É o mal vencendo em todos os espaços sociais e contaminando todo mundo. Como disse Hannah Arendt, é a banalidade do mal".

Ela continua: "Resolvi me proteger desta violência buscando ser a melhor versão de mim mesma e fazendo alguma coisa útil e positiva neste momento de tanta destruição. No meio desta crise, em vez de entrar em pânico ou ficar xingando todo mundo, comecei um trabalho voluntário com pessoas mais velhas e voltei a estudar. A minha filosofia de vida tem sido: não vou me tornar cúmplice da banalidade do mal".

Ela conclui: "Como enfrentar o medo? Se cada um procurar ser gentil, atencioso e respeitoso com o outro já contribui para enfraquecer este clima de violência. Em vez de ficar vomitando xingamentos na internet, em vez de tratar o outro como inimigo, basta se perguntar: o que eu posso fazer de bom para a minha própria vida e para a vida dos que me cercam?".

Desejo a todos os meus leitores e leitoras que, em 2016, a esperança, a paz e o equilíbrio vençam o medo, o mal e a violência.


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