Folha de S. Paulo


Carta de um pai

Meus filhos queridos,

Chorei muito no último domingo. Não ficava tão triste assim desde a morte do meu pai. Por que vocês me ignoram, me criticam o tempo todo, são tão agressivos comigo?

Por quê?

Por que não tenho dinheiro para comprar o carro que vocês querem?

Por que o meu salário não permite dar uma boa mesada para vocês?

Por que eu insisto que vocês têm que estudar e trabalhar?

Desculpem se sou chato, mas quero que vocês sejam independentes.

Com a idade de vocês, eu já tinha dois filhos, inúmeras responsabilidades e muitas contas para pagar.

Trabalhei muito, e ainda trabalho, para criar vocês, pagar as melhores escolas e faculdades, o plano de saúde, as despesas da casa etc.

Não tive até hoje dinheiro para curtir a minha própria vida, pois praticamente tudo o que ganhei foi para sustentar vocês e para ter o mínimo para sobreviver. Não está na hora de vocês ganharem o próprio dinheiro?

Vocês me consideram um fracassado porque não posso dar tudo o que vocês querem. Mas não dei sempre o que é mais importante: amor, carinho, cuidado?

Ligo todos os dias para saber como vocês estão. Vocês só ligam para pedir dinheiro ou cobrar alguma ajuda para resolver seus problemas.

Vocês nunca se interessam em saber como eu estou, nunca perguntam nada sobre mim.

Quantas vezes trabalhei horas e até mesmo dias fazendo algo para vocês e não recebi nem um "muito obrigado, pai"? Será que é muito querer o mínimo de reconhecimento?

Vocês não são mais as crianças que ainda teimam ser. Pode parecer utópico, mas gostaria de ter alguma reciprocidade na nossa relação.

Vocês só cobram os seus direitos como filhos e não assumem a menor obrigação ou responsabilidade.

Parem de exigir de mim o que eu sempre dei, com o maior sacrifício, e que, confesso, não posso nem quero dar mais.

O que mais desejo na vida é que vocês sejam muito felizes, mas quero também me sentir amado e respeitado por vocês.

Esta carta é o meu presente de Dia dos Pais. Decidi me dar o que eu mais gostaria de receber de vocês: compreensão, reconhecimento e reciprocidade. Sei que vocês irão achar que é pedir muito. Mas será que vocês poderiam ter a delicadeza de não demonstrar tão claramente que eu sou um merda de pai?


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