Folha de S. Paulo


Empresas reclamam porque não poderão 'mamar na teta' do governo, diz ministro da Saúde

As críticas feitas às mudanças nas parcerias de transferência de tecnologia do governo federal ocorrem "com razão", porque as empresas "perderam a capacidade de mamar nessa teta", afirma o ministro Ricardo Barros à coluna.

Ele critica o modelo atual das parcerias, no qual os laboratórios públicos e as farmacêuticas estariam lucrando com os atrasos no processo de transferência.

O ministério planeja alterar o marco regulatório do programa, que têm como objetivo transferir das farmacêuticas para os laboratórios públicos a tecnologia de produção de medicamentos estratégicos para o SUS.

A proposta, que deverá ser implementada até o fim deste ano, é fixar prazos mais rígidos e alterar a forma de pagamento às farmacêuticas: o custo da transferência de tecnologia será feito por um contrato distinto da compra do remédio em si -o que hoje é feito de forma conjunta, e por isso os valores pagos são acima do mercado.

Dessa forma, se houverem atrasos na transferência, o governo não precisará pagar.

O ministro nega que os critérios para a definição das parcerias não sejam transparentes, e afirma que o Tecpar, laboratório de seu Estado, tem capacidade para receber a tecnologia dos biológicos.

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Folha - O que vai ser alterado no modelo das parcerias?
Ricardo Barros - Vamos fazer contrato com valores definidos. O produto será comprado a preço de mercado, não pagaremos a transferência embutida.

Quais são os critérios para as parcerias? Porque não há uma licitação.
É uma comissão que avalia. O laboratório público escolhe um parceiro [privado], faz uma proposta e vemos qual é a que mais nos interessa. Quem oferecer as melhores condições será escolhido. Isso é público, transparente.

Empresas dizem que há pouca transparência.
Bobagem. Os critérios são claros. Eles têm direito de questioná-los e nós respondemos através da equipe que faz a avaliação. Os laboratórios foram trocados também porque especializamos três em biológicos: Butantan, Biomanguinhos e Tecpa. Os outros quatro abriram mão.

Mas como foram escolhidos? A Funed [de Minas], por exemplo, trabalha com biológicos.
A Funed abriu mão da participação, ficou com outra especialidade. [Procurada, a Funed diz que foi o governo que a direcionou a outra área.]

Como responde à crítica de o Tecpar ter sido escolhido por ser do seu Estado?
O Tecpar tem capacidade de receber a transferência de tecnologia. Essa conversa do Tecpar é esperneio. Ele é do meu Estado, mas faz vacina [antirrábica, feita com biotecnologia] desde 1944.

Qual o problema de parcerias que não avançaram?
O modelo não está funcionando. Laboratórios nacionais não se preparam porque ganham margem de 5% a 10% do valor comprado e não investem, em alguns casos.

A exigência de compra da mesma empresa não é uma reserva de mercado?
Quem tiver parceria terá preferência da compra, mas pelo preço do mercado. A transferência terá um prazo. Reclamam com razão porque perderam a capacidade de mamar nessa teta. Já economizei R$ 3 bilhões em um ano.

Mas vai ter interesse por parte das empresas, se elas não vão conseguir vender?
Vou fazer pregão. Se não quiser vender ao preço, compro de quem venda. Antes, quem fazia a negociação era o laboratório. Quanto mais caro cobrasse, melhor para ele. Estão reclamando com razão, porque perderam a capacidade de mamar nessa teta. Já economizei R$ 3 bilhões em um ano.

O fato de a transferência não andar é mais culpa do parceiro público ou do privado?
Era um conjunto da obra. Estavam acomodados com a situação, todo mundo faturando: o laboratório público ganhando em cima de um investimento zero, porque não estava recebendo tecnologia, e o privado também não estava transferindo.

E a judicialização?
Assaltam o Estado. Vendem aqui a R$ 20 mil uma ampola que custa R$ 14 mil na Austrália. É uma máfia. Assaltam o erário, e com ordem de juiz.

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