Folha de S. Paulo


Não adianta aumentar imposto, diz ex-diretor do Banco Central

"Não adianta aumentar imposto, a CPMF não resolve nada", diz Sérgio Werlang, ex-diretor de política monetária do Banco Central, na gestão de Armínio Fraga, e atual assessor da presidência da FGV.

Na avaliação de Werlang, o problema das contas públicas não está na carga tributária, que já é alta.

"O Brasil tem uma carga que é bem próxima da média da OCDE, e muitíssimo acima de países pares da América Latina. O que é grave é o crescimento desenfreado das despesas do setor público."

Se a CPMF fosse introduzida com alíquota de 0,2%, daria um pouco acima de 0,5% do PIB, calcula.

"O crescimento dos gastos governamentais obrigatórios faria com que necessitássemos em três anos de 1,6 vezes este valor de receita adicional somente para fazer face ao aumento de despesas que aconteceram no período."

Danilo Verpa/Folhapress
Sérgio Ribeiro da Costa Werlang, professor. da FGV e ex-diretor do Banco Central
Sérgio Ribeiro da Costa Werlang, professor. da FGV e ex-diretor do Banco Central

Mesmo com hipóteses otimistas de crescimento do PIB (-2,1%.,em 2016; 0%, em 2017 e 2,5%, em 2018), o déficit primário do setor público aumenta em 0,8% do PIB entre 2015 e 2018, afirma com base em projeções da pesquisadora Vilma da Conceição Pinto, do Ibre/FGV.

"Nossas leis engessaram demais o orçamento e exigem mais de 100% da arrecadação. Só funcionavam enquanto o país crescia bastante a arrecadação também", afirma.

"Precisa 'enfrentar o touro à unha', diminuir substancialmente o crescimento das despesas obrigatórias e revisar também de forma relevante os gastos que são vinculados às receitas tributárias." Werlang reconhece que muitas dessas mudanças requerem emendas constitucionais. "Será um duro caminho, mas inevitável", frisa.

"O mais importante no curto prazo é mexer nos reajustes ligados ao salário mínimo. Grande parte dos benefícios é ligada a ele, além da previdência, há outros".

Do aumento das despesas de R$ 58 bilhões, R$ 35 bilhões decorrem do salário mínimo, segundo cálculos de Vilma da Conceição Pinto. "Sem resolver isso, continuaremos em deficit, dívida subindo, desconfiança em alta e com dificuldade de ter investimentos."

Desvincular receitas para educação e saúde não seria suficiente, afirma. "Daria um gás talvez de um ano."

Com relação à possibilidade de aprovação da independência do Banco Central no futuro governo de Michel Temer, Werlang afirma que a instituição já tem um comitê de política monetária muito reconhecido como responsável por controlar a inflação.

"O custo adicional de determinar legalmente a independência é pequeno. O ideal seria estabelecer o mandato fixo e a impossibilidade de demissão dos diretores, exceto por um processo formal de impedimento, que teria de ser aprovado pelo Senado."

O ganho, por outro lado, seria grande, diz. "Se o BC não é independente, mesmo que aja da forma mais técnica possível, sempre se pode achar que houve interferência política na fixação da taxa de juros."

Perseguir uma meta de emprego, além da de inflação, traria mais problemas que vantagens, afirma.

"Se o objetivo for duplo, é melhor que [a independência] não seja aprovada. Nos EUA, o Fed [o banco central do país] tem dois mandatos há muito tempo. No Brasil, isso introduziria muita incerteza", diz o ex-diretor do BC.

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PASSA LÁ EM CASA

As fabricantes de amendoim esperam repetir na Olimpíada um empurrão de vendas como o que tiveram na Copa de 2014. A expectativa das empresas é comercializar cerca de 25% a mais com os Jogos do Rio, em agosto.

O produto salgado é muito consumido pelo telespectador em casa durante as partidas. As pessoas o veem como um bom aperitivo para acompanhar bebidas geladas, diz a Abicab (de fabricantes de chocolate, cacau e amendoim).

TIGELA CHEIA - Mercado de amendoim no país, em mil toneladas

"A Copa foi um evento de maior apelo para a nossa indústria. Ainda que o resultado não se repita com a mesma intensidade agora, os Jogos Olímpicos nos ajudarão a crescer neste ano", avalia André Guedes, da entidade.

Consideradas espécie de "Natal" do setor, as Festas Juninas devem impulsionar as vendas em 20%, sobretudo da versão doce do produto.

No ano passado, o consumo de amendoim aumentou 3,2%. A indústria também experimentou alta de quase 50% nas exportações. Mas a base vendida ao exterior é pequena, de 9,5 mil toneladas.

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FÔLEGO NAS FÉRIAS

Os financiamentos dos bancos públicos para empresas de turismo nos dois primeiros meses deste ano totalizaram R$ 1,3 bilhão, segundo o Ministério do Turismo.

Em relação a fevereiro de 2015, quando os bancos públicos financiaram R$ 830,7 milhões, o incremento foi 4%.

Do Banco do Brasil partiu a maior parte do crédito, de R$ 814,37 milhões.

A Caixa ficou em segundo lugar, com R$ 459 milhões, seguida pelo Banco do Nordeste (R$ 24,55 milhões) e pelo Banco da Amazônia (R$ 13,95 milhões).

"O volume de desembolsos feitos para o segmento de turismo está próximo do observado no primeiro bimestre de 2015, de R$ 743,1 milhões", diz o Banco do Brasil.

O Banco da Amazônia disse ter feito financiamentos de R$ 3,21 milhões, entre janeiro e março deste ano, destinados a 33 projetos para promoção da região amazônica.

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Por tempo... O número de funcionários temporários recrutados pelo ManpowerGroup Brasil cresceu 17%, em média, no primeiro trimestre deste ano. Na comparação de março de 2015 com o mesmo mês deste ano, a alta foi de 13%.

...limitado A empresa atribui o resultado a um aumento no número de pessoas disponíveis no mercado e dispostas a aceitar trabalhos por pouco tempo. Até março desse ano, a empresa teve quase 3.500 profissionais contratados.

Eficiência pública Até 10 de junho estão abertas as inscrições para a primeira edição do Brazil Lab. O programa incentiva propostas de melhorias do setor público. Serão selecionados até dez projetos de educação, saúde e sustentabilidade.

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HORA DO CAFÉ

Editoria de Arte/Folhapress
Charge Mercado Aberto de 6.mai.2016

com FELIPE GUTIERREZ, DOUGLAS GAVRAS e TAÍS HIRATA


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