Folha de S. Paulo


Setor plástico projeta queda de 10% em 2015

A indústria plástica prevê uma retração mais acentuada em seu faturamento nos próximos meses. No acumulado do ano até agosto, a queda foi de 4%. A projeção, no entanto, é que 2015 termine com um recuo de 10%.

"O segundo semestre deverá ser pior", afirma o presidente da Abiplast (associação brasileira do setor), José Ricardo Roriz Coelho.

Esse será o segundo ano consecutivo com resultado negativo no segmento. Em 2014, quando o faturamento ficou em R$ 67 bilhões, houve uma diminuição de 6%.

"O cenário é muito preocupante. De janeiro para cá, o mercado se reduziu de forma violenta", acrescenta.

Nos primeiros sete meses de 2015, a indústria fechou cerca de 13,4 mil postos de trabalho –o que equivale a 3,8% do total de empregados no setor. Durante todo o ano passado, 3.000 vagas haviam sido eliminadas.

"Sem a desvalorização do real, a situação estaria ainda pior. Tem entrado menos importados no país, mas o problema é que o consumo [nacional] também está menor. O grande volume de matéria-prima importada piora o panorama, pois a alta do dólar fez os custos das empresa subirem", afirma.

"Não temos indicativos de que haverá alguma melhora nos próximos meses. As companhias não estão investindo e os consumidores reduziram suas compras."

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Trenó desacelerado

Os shoppings diminuíram o orçamento dos projetos de Natal em 2015, segundo Cecília Dale, cuja empresa homônima é especializada na decoração para o período.

"Ou o cliente repetiu ou reduziu o investimento, embora a gente tenha recebido mais pedidos", diz.

Dale garante, no entanto, que os cortes foram suaves, pois a aposta na decoração é um dos fatores de aumento de fluxo nos shopping centers.

"O mercado sabe que, com o dólar caro, as pessoas vão viajar pouco e fazer as compras aqui", acrescenta a empresária.

Em 2014, a companhia, que atua também com lojas de móveis, inaugurou quatro unidades. As aberturas deverão ajudar a elevar o faturamento em 23% neste ano.

"Ao mesmo tempo em que há dificuldades, a gente está crescendo em 2015."

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Preocupação na casa de Noel

Na Cipolatti, outra empresa do ramo de decorações de Natal, o ano começou "assustador". "Mas logo se estabilizou", afirma Conceição Cipolatti, dona da companhia.

Apesar da crise, a quantidade de trabalhos se manteve no mesmo patamar de 2014 –130 projetos. "Não crescemos, mas também não caímos."

Conceição não declara o faturamento da companhia, mas afirma que o ticket médio encolheu e que o uso de materiais diminuiu em 3,5%.

A crise econômica e alta do dólar contribuíram para o problema. A gravidade, porém, foi amortecida por uma característica do segmento: os contratos são fechados no início do ano –mesmo período em que os itens importados costumam ser adquiridos.

Para 2016, a empresária pretende investir em clientes internacionais.

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Árvore reduzida

Apesar de ter fechado um maior número de contratos para projetos de decoração neste ano, a Companhia de Natal não ficou imune à crise econômica.

"Temos 30 clientes neste ano, um crescimento de 30% em relação a 2014, mas os orçamentos estão menores", diz Helena Almeida de Paula, diretora da empresa.

Com trabalhos em Osasco, Marília e Maceió, entre outras cidades, a empresa de Presidente Prudente teve seus custos de produção elevados em decorrência da alta do dólar. As mercadorias básicas, como lâmpadas e bolas, são importadas da China.

"A oscilação de custo acontece, não é a primeira vez. Nós absorvemos o choque, porque os contratos foram feitos no início do ano."

Para o futuro, ela estuda a possibilidade de produtos alternativos que aliviem os custos, mas com capacidade de manter um acabamento que seja adequado.

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Olhar distante

As pequenas e médias empresas paulistas, sem estrutura consolidada para vender a outros países, são o alvo de uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento e a Apex, que será lançada nesta terça-feira (6).

O projeto tem por objetivo aumentar a capacitação de empresas no comércio exterior, por meio de avaliação de seu potencial.

Serão incentivados setores como o de alimentos, de materiais de construção, moda, farmacêutico e de equipamentos hospitalares.

"O cenário de real mais fraco ante o dólar deve ser aproveitado agora", afirma Juan Quirós, presidente da Investe SP, agência de incentivo às exportações ligada ao governo paulista.

"As companhias estrangeiras que se programaram para investir no país em um contexto de câmbio menos favorável também têm vantagens para se instalarem em São Paulo e se beneficiam do real fraco."

com LUCIANA DYNIEWICZ, LEANDRO MARTINS, DOUGLAS GAVRAS e CLÁUDIO RABIN


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