Folha de S. Paulo


Em ano de ajuste, BNDES mantém verba social

Enquanto o BNDES projeta para 2015 queda de 10% do total de R$ 188 bilhões emprestados no ano passado, a estimativa do banco para o dispêndio de recursos não reembolsáveis é de manutenção no patamar de 2014.

Os montantes não reembolsáveis não são devolvidos para o BNDES, se forem corretamente aplicados. São quatro fundos: social, tecnológico, cultural e de estruturação de projetos.

No fundo social, o de maior volume liberado, o desembolso de recursos cresceu 371% de 2010 para o ano passado e 61% de 2013 para 2014.

Entre os contemplados no fundo social estão o Instituto Camargo Correa e o Instituto Odebrecht.

A origem dessa verba é um percentual do lucro do banco. O gasto correspondente ao "S" do BNDES, porém, é muito maior do que os cerca de R$ 486 milhões liberados em 2014, lembra Claudio Leal, superintendente de planejamento da instituição.

"Em caso de desvio, esses fundos estatutários tornam-se reembolsáveis e sobre eles passam a incidir encargos financeiros", assinala Dalmo Fugita, gerente do departamento de economia solidária.

"No fundo social, voltado para geração de renda e modernização da gestão pública, atuamos com institutos e fundações ligados a grupos econômicos que têm relacionamento com o BNDES, para estimulá-los a contribuir para o desenvolvimento das cidades em que estão."

Os valores são direcionados para cooperativas de produtores. Os institutos, que fazem a contratação das organizações, aplicam recursos próprios e os do banco, que representam até 50% do valor total dos investimentos.

"Para cada R$ 1 que investimos, alguém coloca conosco. Muitas cooperativas não têm como tomar financiamento, mas têm uma atividade que gera trabalho e futuramente poderão se inserir no mercado de crédito. Estamos chegando na base social tentando promover autonomia."

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UM POR UM

De 2009 a 2014, a Fundação Odebrecht realizou R$ 14.7 milhões de um contrato de até R$ 26 milhões, em projetos de melhora de estrutura física e equipamentos para quatro cooperativas.

"O último que fizemos com o fundo [não restituível] do BNDES foi uma fábrica de farinha, para produtores de mandioca. Para outra associação, compramos caminhões e tanques redes. Conforme a demanda da cooperativa, apresentamos para o banco. Se aprovada, as duas partes alocam o mesmo valor", diz Eduardo Odebrecht, presidente da fundação. O contrato vence neste ano.

O contrato do Instituto Camargo Corrêa, por sua vez, de 2011 a 2016, prevê aporte de R$ 25 milhões, de cada lado. "É um por um. Não se aplicou tudo. Foram R$ 11,4 milhões. Não é fácil atender às exigências do BNDES", diz o diretor Francisco Azevedo. "Não sentimos redução, por ora."

Outras parceiros são a Fundação Banco do Brasil -a de maior aporte, de R$ 20 milhões ao ano- e a Fundação Parque Tecnológico Itaipu.

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PARCERIA AMPLIADA

A Votorantim e o BNDES vão ampliar a parceria de investimento em cidades com índices socioeconômicos baixos, que somará R$ 110 milhões de 2010 a 2020.

No início, estavam previstos R$ 70 milhões em cinco anos para projetos de geração de renda e apoio à gestão municipal. Com o aporte maior, já em 2015, o projeto poderá chegar a mais de 40 municípios.

"Por estatuto, o banco tem o fundo social e a dificuldade dele é executá-lo em um país continental. Com a capilaridade da Votorantim, em mais de 300 cidades, podemos acompanhar de perto e levar projetos para áreas muito carentes", diz Cloves Carvalho, presidente do instituto.

"Metade dos recursos e a gestão do programa são da Votorantim e 50% vêm do banco." Ao todo, o Instituto Votorantim prevê investir neste ano R$ 82 milhões, sem contar compensações obrigatórias.

Em 2014, foram R$ 76,1 milhões (dos quais 71% de recursos próprios, 24% de captações, que incluem os recursos não reembolsáveis do BNDES) para 293 projetos em 119 municípios.

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O que estou lendo: Antonio Quintella, sócio-fundador da gestora Península

"O último livro de Lilian Schwarcz e Heloísa Starling, 'Brasil: Uma Biografia' (editora companhia das Letras), é excelente", diz Antonio Quintela, sócio-fundador da gestora Península Investimentos.

"A história do Brasil é muito interessante, mas esse não é um livro tradicional. É acessível e bem documentado. Oferece uma leitura muito agradável, sob uma perspectiva realmente original", relata Quintella, que foi presidente do Credit Suisse nas Américas e no Brasil.

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Financiamento em dia

Por causa da crise, a venda de seguro prestamista para financiamentos de carros no Banco Volkswagen cresceu 8,5% de janeiro a abril deste ano, em relação ao mesmo período de 2014.

O produto garante o pagamento de até quatro parcelas mensais do carro em caso desemprego, incapacidade temporária, invalidez permanente ou morte, de acordo com a categoria contratada.

A proporção de apólices vendidas para veículos financiados aumentou 11,4% e chegou a 37 para cada 100. No primeiro quadrimestre de 2014, a elevação havia sido de 8,6%, em comparação com janeiro a abril de 2013.

"Esse segmento já vinha crescendo, mas agora em maior escala. Os clientes estão mais preocupados em assumir dívidas por causa do cenário atual", afirma Décio Carbonari de Almeida, presidente do banco.

O número de sinistros abertos também segue a tendência. Em abril, as indenizações alcançaram R$ 1,1 milhão, uma alta de 74% em relação ao mesmo mês de 2014.

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Conselho... A italiana Mariana Mazzucato, professora da Universidade Sussex, no Reino Unido, passará a ser consultora do governo federal.

...técnico Mazzucato prestará serviços para o Ministério da Ciência e Tecnologia sobre o papel do Estado nos processos de inovação e competitividade.

com LUCIANA DYNIEWICZ, LEANDRO MARTINS e ISADORA SPADONI


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