Folha de S. Paulo


Atualidade de 'Big Little Lies' não a faz espetacular, como diz o Emmy

HBO/Divulgação
Shailene Woodley (Jane), Reese Witherspoon (Madeline) e Nicole Kidman (Celeste) em cena de
Shailene Woodley (Jane), Reese Witherspoon (Madeline) e Nicole Kidman (Celeste) em 'Big Little Lies'

Concedido desde 1949, o Emmy é o principal prêmio da indústria americana de televisão. E, como ocorre com o Oscar, a noite de entrega da estatueta se tornou um evento de grande visibilidade e repercussão.

Tanto quanto a consagração oferecida pelo prêmio, a cerimônia anual ganhou importância em si, pelo palco que oferece aos protagonistas do negócio.

A entrega do mais recente Emmy, realizada no último domingo (17), teve clima de assembleia estudantil. Grupos com posições muito diferentes conseguiram se unir em torno de um inimigo comum, simbolizado na figura do presidente Trump.

Foi uma noite memorável, com manifestações em defesa de direitos iguais para homens e mulheres, de rejeição ao machismo, contra o racismo, pela diversidade étnica, contra a homofobia e pela liberdade de expressão, entre outras bandeiras.

A cerimônia deixou um saldo confuso, porém. De um lado, incontestável, é o direito e até a necessidade cívica de rejeitar certas posições e opiniões defendidas por Trump desde a campanha presidencial, em 2016, e na Casa Branca, neste ano. De outro, há os programas de televisão premiados. O que eles têm a ver com isso?

Um caso, em especial, me chamou a atenção, o de "Big Little Lies". Exibido pela HBO, faturou inúmeros prêmios importantes (melhor minissérie, direção, atriz, ator coadjuvante e atriz coadjuvante, entre outros).

O romance de Liane Moriarty, aqui intitulado "Pequenas Grandes Mentiras", foi lançado em 2014 e no mesmo ano as atrizes Nicole Kidman e Reese Witherspoon abraçaram o projeto de adaptá-lo para a TV. Em maio de 2015, foi anunciado que a HBO comprou a ideia, em janeiro de 2016 começaram as filmagens e, em fevereiro desde ano, foi exibido o primeiro episódio.

Cinco mulheres protagonizam a minissérie, ambientada em Monterey, uma pequena e rica cidade na Califórnia. Os seus dramas pessoais e os conflitos que têm entre si vão sendo apresentados aos poucos, enquanto a polícia investiga um assassinato. O espectador só saberá quem é a vítima do crime no desfecho do sétimo e último episódio.

Tédio no casamento, visões diferentes sobre a educação dos filhos, abuso sexual, violência doméstica e adultério são os temas principais que movem os diálogos. Todos os personagens masculinos são secundários –homens bobos ou violentos.

A estética de "Big Little Lies" frequentemente lembra publicidade de perfume, na sua combinação de mulheres lindas, casas magníficas e paisagens deslumbrantes.

Uma vez que o espectador é mordido pela curiosidade do "quem matou" e "quem morreu", torna-se impossível parar de assistir. As interpretações de Nicole Kidman, Reese Witherspoon e Laura Dern, igualmente, também recompensam o espectador.

A minissérie surfa na onda de um tema em pauta, de grande importância, que é o empoderamento feminino. E o sucesso que angariou, tal como ocorre com a novela brasileira "A Força do Querer", está relacionado à forma como as personagens femininas são apresentadas.

"Big Little Lies" é uma boa minissérie, mas está longe de ser a obra-prima que a consagração no Emmy deu a entender que é. Também não foi pensada como um libelo anti-Trump, mas o tempo em que vivemos a tornou mais atual ainda, digamos assim.

É, por estas razões, um programa datado, que deixa uma contribuição maior à luta das mulheres do que à teledramaturgia.

Trailer de 'Big Little Lies', da HBO

Trailer de 'Big Little Lies', da HBO


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