Folha de S. Paulo


Jornalismo ao vivo na televisão mostra o seu valor em momentos dramáticos

O leitor talvez não saiba, mas esta coluna dominical é sempre escrita e entregue ao jornal às quintas-feiras. Nesta quinta (18), com o país em chamas, depois de mais um escândalo em Brasília, não consegui me concentrar para desenvolver o texto que havia planejado.

Com um olho na TV e outro no computador, passei o dia acompanhando em tempo real os desdobramentos da crise. Entre as minhas fontes de informação, recorri muito às da "velha mídia" –os canais abertos e os da TV por assinatura, bem como os sites de jornais e revistas.

Em momentos dramáticos, o jornalismo ao vivo na TV mostra o seu valor. Diferentemente de uma novela ou de um programa de auditório, que podem ser substituídos com facilidade por uma série da Netlfix, o noticiário produzido no calor dos acontecimentos não tem nenhum rival à altura.

O relato de uma notícia bombástica que acabou de acontecer tem um impacto único, mesmo quando não há muito o que acrescentar. Na última quarta-feira (17), por exemplo, o "Jornal Nacional" praticamente repetiu o que o jornal "O Globo" havia acabado de publicar sobre Temer e Aécio, mas a temperatura do assunto fez o telejornal alcançar uma audiência 10% superior à média obtida neste dia nas últimas oito semanas.

O telejornalismo ainda é alimento indispensável e bem de primeira necessidade, mas já foi mais forte. Dependente de investimentos custosos, sofre especialmente neste momento de crise econômica e queda na receita com publicidade.

Em tempos de crise política, o jornalismo da televisão também perde força –e credibilidade– quando submete os fatos a leituras enviesadas, deixando a opinião contaminar a informação e não transmitindo com clareza os acontecimentos. A cobertura da greve geral, em 28 de abril, expôs essa dificuldade.

Ainda assim, esse jornalismo a quente permanece com um dos ativos mais importantes da mídia tradicional. Mais até que as transmissões esportivas.

Como se sabe, YouTube, Facebook, Amazon e Twitter já estão colocando as suas mãos nesse mercado valioso. As negociações de direitos de transmissão exclusiva de partidas das ligas de futebol americano e basquete, entre outras, já incluem um naco destinado exclusivamente a essas empresas.

Em 2017, a Amazon venceu a briga pelos direitos de transmissão digital (streaming) de dez partidas da liga de futebol americano. Vai pagar US$ 50 milhões (cerca de R$ 165 milhões) à NFL.

A ideia de que o jornalismo de TV é um bem de primeira necessidade e, por isso, indispensável ganha contornos muito visíveis, também, quando se olha para o chamado noticiário local.

Investimentos recentes em São Paulo dão algumas pistas sobre como a Globo, líder do mercado, enxerga o assunto. As duas edições do "SPTV" mudaram de nome, passando a se chamar "SP1" e "SP2" -a palavra TV sumiu no esforço de sinalizar que os noticiários também se destinam ao consumo em outras plataformas, como smartphones.

O mesmo objetivo explica a mudança da identidade gráfica dos telejornais. As legendas agora aparecem com letras maiores e ocupam mais espaço na tela.

Enfim, o assunto planejado inicialmente para esta coluna ficará para a próxima semana. Assim espero.


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