Folha de S. Paulo


Em 'Procurando Casseta & Planeta', grupo tenta entender seu legado

Guto Costa/Divulgação
A partir da esq., Claudio Manoel, Beto Silva, Helio de La Peña, Reinaldo Figueiredo, Marcelo Madureira e Hubert Aranha
A partir da esq., Claudio Manoel, Beto Silva, Helio de La Peña, Reinaldo Figueiredo, Marcelo Madureira e Hubert Aranha

Eles ainda formavam dois grupos, "Casseta Popular" e "Planeta Diário", em 1988, quando começaram a testar suas ideias em casas noturnas do Rio e de São Paulo. O esquete "Piada em Debate", no qual uma socióloga, um negro e um português se reúnem para analisar uma anedota infame, é daquela época.

O quadro foi parar na televisão, no programa "TV Pirata" (1988-90 e 1992), que contava com eles no time de redatores. E acabou se tornando uma marca do tipo de humor que pretendiam fazer —com um pé na reflexão sobre o próprio ofício e outro na incorreção política.

Depois de uma segunda experiência atrás das câmeras, em "Doris para Maiores" (1991), ganharam da Globo o próprio programa em 1992. Inicialmente mensal, "Casseta & Planeta, Urgente!" se tornou semanal em 1998. Ficou no ar até 2010.

Na dúvida se haviam sido convidados a se aposentar ou apenas a descansar a imagem, o grupo reapareceu em 2012, com "Casseta & Planeta Vai Fundo", um novo formato que não agradou o público.

Estes 24 anos de experiência na televisão estão na raiz de "Procurando Casseta & Planeta", uma série em 20 episódios, atualmente em exibição no canal pago Multishow.

Há muito do "Piada em Debate" nesta série —ou de "jornalismo-mentira e humorismo-verdade", como eles sempre defenderam. Trata-se de um falso documentário, no qual os seis integrantes do grupo se veem no ostracismo, tentando sobreviver em diferentes situações bizarras.

Helio de La Peña quer "voltar a ser negão", Hubert se tornou agente de artistas medíocres, Reinaldo é empresário de jazz, Marcelo virou um militante político extremado, enquanto Beto Silva e Claudio Manoel, quebrados e sem recursos, tentam fazer um filme sobre o grupo.

Saber rir de si mesmo é sinal de inteligência —e os "cassetas" esbanjam esta qualidade na série. Mas há algumas outras camadas menos óbvias em "Procurando Casseta & Planeta" que merecem ser observadas.

O grupo sabe que a saída de cena, no início desta década, foi uma etapa natural, em um processo típico da indústria do entretenimento —o momento de esgotamento da imagem de seus protagonistas.

Nos muitos "depoimentos" de gente na rua exibidos na série, as lembranças sobre o "Casseta" são nebulosas, confusas, fracionadas. É um reconhecimento, mesmo que melancólico, da impermanência do conteúdo da televisão na memória dos espectadores. Não à toa, entre preservar um Troféu Imprensa ou uma "Playboy" com figurantes do programa na capa, os humoristas falidos optam pelo segundo objeto.

Se não é junto ao público que o grupo espera ver o seu legado reconhecido, onde seria? É aí que entra outro aspecto interessante do novo programa. Sobram questionamentos sobre o que veio depois deles.

O humor nascido do stand-up é um alvo óbvio. Hubert agencia um humorista chamado Paulinho Piada e, a certa altura, ao negociar um show, decide se fazer passar pelo artista. Diante de uma plateia formada por um patrono de escola de samba, seus asseclas e suas mulheres, Hubert abusa da grosseria e é agredido pelos capangas do homem.

Mesmo que não encontre uma resposta muito clara, "Procurando Casseta & Planeta" (seg. a sex., às 23h15) ajuda a deixar registrado um capítulo fundamental do humor na TV.


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