Folha de S. Paulo


Por audiência, NBC quis mudar o desfile de abertura da Rio 2016

Em meio às más notícias que estão antecedendo a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, uma informação edificante passou sem a devida repercussão no Brasil. O COI (Comitê Olímpico Internacional) disse "não" a um pedido da NBC, o seu maior e mais poderoso parceiro.

A TV americana pediu ao organizador dos Jogos que alterasse a ordem de entrada da delegação dos Estados Unidos durante o tradicional desfile que ocorre na cerimônia de abertura, marcada para sexta (5).

Por tradição, os países entram no estádio seguindo a ordem alfabética. No Maracanã, os EUA serão o 64º, entre os Estados Federados da Micronésia e a Estônia, de um total de 207 nações. Mas a NBC sonhava que o país entrasse mais no fim, o que ocorreria se fosse levado em consideração o nome em inglês (United States).

O que motivou pedido tão curioso? A emissora estima que conseguiria segurar, diante da TV, mais audiência dessa forma. O desfile é, de fato, um momento mais tedioso na transmissão e a NBC teme perder espectadores assim que os atletas norte-americanos passarem.

O "não" do COI mereceu bastante destaque na imprensa americana, incluindo notícias no "New York Times" e no "Washington Post". Ainda que tenha sido mais do que compreensível a negativa, houve alguma surpresa em função dos valores envolvidos nessa história.

A NBC, como é sabido, pagou US$ 1,23 bilhão (cerca de R$ 4 bilhões) pelos direitos de transmissão dos Jogos do Rio. A Globo, estima-se, desembolsou cerca de US$ 200 milhões (cerca de R$ 650 milhões).

Segundo a "Variety", o grupo que controla a NBC desde 2011, a Comcast, pagou US$ 4,38 bilhões pelos direitos de transmissão nos EUA dos Jogos Olímpicos até 2020 (em Tóquio), incluindo as Olimpíadas de Inverno de 2014 (Sochi) e 2018 (Pyeongchang). Em 2014, pagou mais US$ 7,75 bilhões para estender o negócio até 2032.

Pelo volume de recursos investidos, é fácil entender por que a NBC já há muito tempo enxerga os Jogos Olímpicos sob a ótica de programas de televisão. Isso significa transmitir as provas no horário mais conveniente, mesmo que isso implique exibi-las horas depois do ocorrido.

A cerimônia de abertura, por exemplo, só irá ao ar nos EUA uma hora depois de seu início, previsto para as 20h (horário de Brasília).

O fuso horário em relação ao Brasil (apenas uma hora mais cedo na costa leste) é o mais favorável desde os Jogos de Atlanta, em 1996. Isso fará com que a emissora aposte em mais transmissões ao vivo, como informou Bell, produtor executivo da NBC Olympics, ao jornalista Nelson de Sá.

Isso também explica por que o grupo americano conseguiu do COI a alteração do horário de algumas competições importantes da Rio-2016. É o que fará assistirmos, no Brasil, às finais da natação entre 22h e 0h, por exemplo.

"A gente tem que jogar o jogo do dinheiro, não tem jeito. Temos que nos preparar para nadar à meia-noite, porque vai ser à meia-noite", disse Cesar Cielo quando ainda sonhava disputar os Jogos (não obteve índice e ficou de fora).

Não é possível comparar a Globo com a NBC em matéria de tamanho, mas a emissora brasileira adota procedimento parecido em relação a competições em que é dona de direitos, como o Brasileirão, por exemplo.


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