Folha de S. Paulo


'The Night Of' expõe a ansiedade pela descoberta da próxima série genial

Divulgação
the night of
Naz (Riz Ahmed) em cena da série 'The Night Of'

Em 2015, 409 séries originais foram ao ar nos Estados Unidos, em TV aberta, cabo ou on-line. Segundo dados divulgados pelo jornal "The New York Times", esse número é o dobro do registrado seis anos antes e representa um recorde –em 2014, foram 376 séries.

Quantidade não significa qualidade, obviamente, mas sem um aprimoramento da produção essa indústria não estaria exibindo números tão robustos e em curva ascendente.

Algumas séries realizadas nos últimos 15 anos, nitidamente com um padrão acima da média, passaram a dar o norte para quem produz.

Qual série vai alcançar o impacto de um "Breaking Bad"? Ou de um "Mad Men"? Ou, indo um pouco mais para trás, de um "Sopranos"? Ou um "The Wire"?

O desafio não é pequeno nesta chamada "era de ouro". Sob pressão desses títulos, é visível hoje no mercado americano, incluindo na mídia, a ansiedade pela descoberta da próxima série genial.

O lançamento da minissérie "The Night Of" deixou mais uma vez à mostra essa aflição.

A HBO fez a parte dela, oferecendo vários elementos para a promoção espalhafatosa (ou "hype") do programa. O ator James Gandolfini (1961-2013) aparece nos créditos como produtor executivo. É uma homenagem ao eterno Tony Soprano, que estava escalado para viver um dos protagonistas, mas morreu um mês depois que o canal aprovou a realização da série.

Antes da estreia, por sete dias, a HBO deixou aberto, em seu site, o primeiro episódio. Esse marketing de degustação rendeu 1,5 milhão de espectadores –um número maior do que o 1,3 milhão que assistiu posteriormente, no próprio canal, à estreia.

O papel que seria de Gandolfini foi oferecido, inicialmente, a Robert De Niro, mas ele teve problemas de agenda. Acabou nas mãos de John Turturro, um ótimo ator, que não costuma fazer TV.

Ele interpreta John Stone, um advogado de porta de cadeia, a quem cabe defender Nasir Khan (Riz Ahmed), um filho de imigrantes paquistaneses, da acusação de homicídio.

A julgar pelos dois primeiros episódios (o terceiro vai ao ar hoje, às 22h), "The Night Of" é a enésima produção a tratar dos meandros policiais e judiciais em torno de um crime misterioso e uma possível injustiça.

A produção é de primeira, a história é envolvente, os atores principais estão muito bem, mas vi mais truques e clichês do que qualidades extraordinárias no programa.

Mostrar uma torneira pingando em primeiro plano, enquanto o legista examina, fora de foco, o corpo da vítima, produz um efeito bonito, mas é um maneirismo batido. O mesmo vale para o advogado atrapalhado, que chega atrasado na audiência, ou para o policial que soca a máquina de refrigerantes dentro da delegacia.

Sem direito a fiança, depois de ser acusado formalmente diante do juiz, Nasir Khan é levado do tribunal para o presídio. A câmera mostra o portão eletrônico subindo, depois o ônibus passando, o olhar perdido do prisioneiro e, finalmente, o portão baixando. Tudo muito bonito, mas quantas vezes você já viu essa cena?

Ainda há quem se impressione com frases de efeito, como a que o advogado diz ao cliente: "A verdade não importa porque não te ajuda". Tudo bem. Mas comparar isso com "The Wire" é excesso de boa vontade.


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