Folha de S. Paulo


Novelão inglês

Criado pelo inglês Julian Fellowes, oficialmente o barão Fellowes de West Stafford, "Downton Abbey" disputa, no próximo domingo (13), o Globo de Ouro de melhor série de 2012. Seus concorrentes, "Boardwalk Empire", "Breaking Bad", "Homeland" e "The Newsroom", representam o melhor da produção (plebeia) americana para a TV.

"Downton Abbey" está sendo julgada por sua segunda temporada. A terceira, já exibida na Inglaterra, chega hoje à televisão americana. No Brasil, a série poderá ser vista, desde o início, a partir de abril, no canal GNT. As duas primeiras temporadas estão disponíveis em DVD.

O seriado foi desenvolvido por Julian Fellowes na esteira do sucesso de "Assassinato em Gosford Park", pelo qual ele recebeu o Oscar de melhor roteiro em 2002. O filme de Robert Altman passa-se em 1932 e retrata um fim de semana numa luxuosa propriedade inglesa, por onde circulam nobres ingleses, milionários americanos e um exército de serviçais que obedece a uma rígida hierarquia.

Fellowes retrocedeu a 1912 para começar "Downton Abbey". Numa das primeiras cenas do seriado, um criado passa os jornais do dia como se fossem roupa ("Para secar a tinta", explica o mordomo). Quando o "Times" chega às mãos de lorde Grantham, todo mundo na propriedade já sabe que o navio de luxo Titanic afundou.

Casado com uma americana milionária, Grantham tem três filhas e, para manter os seus bens em família, havia planejado casar a mais velha com um primo --justamente uma das vítimas do naufrágio. A busca de uma solução para esse problema é o tema principal da primeira temporada.

Praticamente nada acontece ao longo dos sete episódios, além da discrição minuciosa do cotidiano sem maiores emoções dos nobres e dos empregados que vivem em Downton Abbey, a propriedade do lorde.

A distinção social é física também. Os criados vivem no andar de baixo, enquanto os donos ocupam o andar de cima. Quase um fetiche de Fellowes ao longo da série, ele oferece ao espectador a possibilidade de acompanhar como "voyeur" a rotina desses serviçais, que obedecem a uma intrincada hierarquia, semelhante a de um exército.

A rigor, nem há vilões em "Downton Abbey". Alguns personagens cometem maldades e pequenos crimes, é verdade, mas a proposta principal do novelão inglês é expor os pequenos dramas do dia a dia de personagens submetidos a distinções muito explícitas tanto em termos de origem social quanto de gênero.

O entendimento é facilitado por uma direção muito convencional, sempre sublinhando olhares e gestos, bem como por uma trilha sonora óbvia, que funciona como muleta irritante.

Por outro lado, além do ótimo tema, o seriado tem texto inteligente, repleto de sarcasmo e ironia, produção de encher os olhos, com externas num castelo verdadeiro, figurinos incríveis e um elenco de primeira, no qual se destaca Maggie Smith, no papel da condessa viúva, mãe de lorde Grantham.

Com essas qualidades e defeitos visíveis, "Downton Abbey" ensina por que o melodrama permanece como gênero imbatível na TV. O seriado já foi vendido para mais de cem países e uma quarta temporada está garantida.


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