Folha de S. Paulo


Washington se prepara para a corrida presidencial brasileira

J. David Ake/Associated Press
BRASILIA, DF, BRASIL, 09-08-2017, 16h00: O governador de SP Geraldo Alckmin é recebido pelo presidente do senado Eunício Oliveira (PMDB-CE), em reunião no gabinete da presidência do senado. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)SAO PAULO, SP, BRASIL, 10.08.17 20h30 Joao Doria. Athie Wohnrath, lanca seu terceiro, seguido de debate com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o cineasta e escritor Arnaldo Jabor e o jornalista Carlos Sardenberg.(Foto: Marcus Leoni / Folhapress, MONICA BERGAMO)Former Brazilian president (2003-2011) Luiz Inacio Lula Da Silva holds a sign reading
O Capitólio, em Washington, nos Estados Unidos

Quem lida com o Brasil em Washington faz parte de um círculo pequeno, mas com grande impacto sobre o nosso ciclo eleitoral: a simpatia do establishment americano facilita ou dificulta as chances de qualquer candidatura presidencial. Isso ocorre porque o tom utilizado naquela capital a respeito dos candidatos à Presidência da República molda as expectativas do mercado e este, por sua vez, afeta as preferências do eleitor. Não à toa, todos os presidentes do ciclo democrático buscaram operar em Washington durante os longos meses de campanha.

Agora, pela primeira vez em mais de um ano, a leitura daquela cidade sobre a crise brasileira ganha contorno claro.

Temer, por exemplo, virou tóxico. A imagem das malas de Geddel e as pesquisas de opinião contaminaram de vez a conversa sobre o Brasil no Executivo e no Legislativo. Ninguém acha que o presidente vá cair e, no Tesouro e em Wall Street, há otimismo a respeito das reformas econômicas. Mas corre solta a fofoca segundo a qual investidores estrangeiros interessados nas novas privatizações continuam sendo acossados por membros da classe política brasileira em busca de vantagens indevidas.

O PSDB já perdeu a reputação amealhada. Aécio é motivo de chacota e, na semana passada, quando FHC esteve na cidade para repetir que as instituições brasileiras "estão funcionando", a mensagem foi recebida com doses volumosas de sarcasmo, pois a tese não para em pé. Geraldo Alckmin continua desconhecido, apesar da relevância de São Paulo nos bancos de fomento sediados naquela capital. E todos querem saber se ele está envolvido na Lava Jato.

Menções a Lula sempre vêm acompanhadas de perguntas sobre suas chances de prisão. Também cresce a analogia entre ele e Lopez Obrador, candidato mexicano à Presidência que selou reputação em Washington como desvairado e irresponsável.

Quem mais gera curiosidade neste momento é Doria. Numa cidade sedenta por identificar uma liderança com a qual o establishment americano possa fazer negócio, o prefeito nada de braçada. Isso poderá acabar de súbito, caso apareça outra personalidade capaz de se comunicar bem naquele ambiente.

A incógnita é Bolsonaro. Prestes a embarcar em sua primeira missão a Washington, o deputado é novidade exótica no mapa eleitoral. Em que pesem suas condenações na Justiça por apologia ao estupro e declarações racistas e homofóbicas, ele encontrará uma cidade aberta ao jogo. Mesmo que sua retórica destoe da realidade, ele poderá emplacar uma imagem de conservador cordato, com política econômica ortodoxa e foco em segurança pública. É o tipo de pacote que o establishment gosta de comprar.


Endereço da página:

Links no texto: