Folha de S. Paulo


Brasil vai para a batalha do comércio exterior com a tropa dividida

Jhon Paz/Xinhua
Vista noturna do Palácio do Itamaraty iluminado, em Brasília (DF). *** (140707) -- BRASILIA, julio 7, 2014 (Xinhua) -- Vista nocturna del Palacio de Itamaraty, en la ciudad de Brasilia, Brasil, el 7 de julio de 2014. El Palacio de Itamaraty, inaugurado el 21 de abril de 1970, fue diseñado por el arquitecto brasileño Oscar Niemeyer y fue la sede del Ministerio de Relaciones Exteriores de Brasil. Brasil es la sede de la Copa Mundial de la FIFA Brasil 2014, la cual se lleva a cabo del 12 de junio al 13 de julio. (Xinhua/Jhon Paz) (jhp) (jp) (sp)
Vista noturna do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília

A política brasileira de comércio exterior atingiu um patamar elevado de risco. Enquanto tenta emplacar acordos com vários países, ela embarca em difíceis contenciosos novos. O resultado terá enorme impacto redistributivo. Essa política comercial define quais setores brasileiros ganham ou perdem na economia global.

Diplomatas e analistas de comércio exterior –as duas carreiras de Estado dedicadas ao assunto– possuem talento e qualificação para brigar com a faca na boca nos cenários mais adversos. Só que a tropa, quando deveria estar mais unida, se encontra dividida.

A disputa por espaço entre Itamaraty e Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) é de longa data e independe dos ministros de plantão, pois a cisão entre as duas burocracias é estrutural: enquanto o Itamaraty é um instrumento a serviço da Presidência, o MDIC é uma caixa de ressonância dos interesses do setor privado. Um ministro deriva sua força do ouvido do Planalto; o outro, de sua capacidade de arbitrar grupos organizados em choque permanente.

Também há diferenças de cultura institucional. Se diplomatas possuem formação genérica e galgam às posições de comando depois de adquirir senioridade na carreira, os analistas de comércio exterior têm treinamento específico, experiência pregressa no setor privado e uma atitude pragmática em relação à hierarquia.

Em tese, bastaria ao governo dividir tarefas de acordo com a vantagem comparativa de cada instituição: o Itamaraty tocaria os contenciosos comerciais e o MDIC executaria o dia a dia da abertura de mercados. Ganho de eficiência para todos.

Não é assim, entretanto, que a banda toca. Quando o setor privado sugeriu ao governo um sistema para remover barreiras burocráticas às exportações e aos investimentos, sonhava em ter um mecanismo único para apontar gargalos e estabelecer prazos para superá-los. Três anos e muito quiproquó depois, Itamaraty e MDIC montaram sistemas próprios e separados. O contribuinte terminou pagando duas vezes por programas que, desconexos, não cumprem a função.

A disputa continua. Quando a rodada Doha fracassou, há dez anos, o Itamaraty trocou uma posição outrora proativa por outra, mais defensiva e protecionista. O MDIC, contudo, apostou na estratégia oposta. Emplacou vitórias com o Plano Nacional de Exportações, um modelo novo para acordos de investimento e o início de negociações ambiciosas com Japão, México, Peru e União Europeia. Para avançar, precisa da anuência do Itamaraty, que manteve controle sobre o ritmo da política comercial.

Enquanto não acabar essa fissura em nossas próprias fileiras, o Brasil continuará sendo o pior inimigo de si próprio. O ônus é debitado na conta da sociedade.


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