Folha de S. Paulo


Trump prepara uma nova ofensiva e, desta vez, tem chance de vitória

Carlos Barria/Reuters
O presidente Trump mostra decreto assinado que revisa política ambiental de Obama, em Washington
O presidente Donald Trump mostra decreto assinado que revisa política ambiental de Barack Obama

"Quando você negocia", escreve Donald Trump em "A Arte da Negociação", "a pior coisa é parecer desesperado. Se o outro lado sentir cheiro de sangue, você está morto."

Publicado há 30 anos, o livro orienta a negociar de uma posição de força. O negociador precisa de alavancagem. "Você tem alavancagem quando possui algo que o outro lado quer, precisa ou não pode viver sem ter."

Semana passada, Trump ignorou sua própria máxima. Lançou uma ofensiva para acabar com a política de saúde do antecessor, mas o fez sem alavancagem no Parlamento. A derrota foi acachapante.

Nesta semana, o presidente retomou a ofensiva. Seu novo alvo é a política energética de Obama. Desta vez, a chance de êxito é maior porque ele está bem alavancado.

A briga foi fatiada em partes. O primeiro round foi o relaxamento dos limites à indústria do carvão. O segundo deve incluir uma restrição às exportações de gás. Nesse jogo, o que importa não é o Congresso, mas países como a China.

A história é assim: na esteira da crise de 2008, Obama fez tudo o que pôde para impedir a implosão da economia chinesa. Se a China afundasse, carregaria junto boa parte do mundo. Para isso, Obama relaxou os controles à exportação de gás americano para o mundo. Jorrando combustível no mercado global, os Estados Unidos ajudaram a derrubar o preço da energia global, uma injeção de adrenalina para Pequim.

De lá para cá, a China criou uma nova dependência de gás barato. Além de precisar desse gás para manter sua indústria de pé, ela utiliza a commodity para substituir o carvão. Descarbonizar as grandes cidades chinesas virou questão de sobrevivência para o regime governante, que precisa dar respostas de saúde à população.

Trump provocará. Ele acredita que a interdependência com a China é perversa, pois aumenta a vulnerabilidade dos Estados Unidos. Acha também que os chineses se beneficiam do gás barato à custa dos interesses americanos.

Com o ajuste de política energética, Trump buscará reposicionar seu país diante da China. Ele tem alavancagem porque basta uma canetada na Casa Branca para fazer o preço internacional do gás disparar.

A longo prazo, isso seria péssimo para todos. De imediato, porém, esse choque daria aos Estados Unidos a vantagem de contar com gás mais barato. Na concepção de Trump, isso traria muitas vantagens a curto prazo.

O presidente precisa cada vez mais de ganhos imediatos. Eles é que poderão energizar sua base e assegurar vitória nas eleições parlamentares daqui a dois anos.


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