Folha de S. Paulo


Vitória de Renan revela o fracasso da classe política da Nova República

Pedro Ladeira-26.abr.2016/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 26-04-2016, 15h00: O presidente do senado senador Renan Calheiros (PMDB-AL) recebe o ex presidente Lula na residência oficial do senado. Lula estava acompanhado Luiz Dulci, diretor do instituto Lula, e do assessor Ricardo Amaral. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Renan Calheiros recebe o ex-presidente Lula na residência oficial do Senado

A Nova República levou ao governo uma classe política à época jovem e bem articulada, oriunda dos movimentos de oposição ao antigo regime autoritário. Cheia de energia cívica, essa nova elite do poder concebeu, a partir da década de 1980, um rumo social-democrata para o país, no qual instituições democráticas ajudariam a acabar com a hiperinflação, universalizando direitos e redistribuindo alguma renda.

Apesar de moderna, essa nova classe governante nunca rompeu com o passado. Pelo contrário, beneficiou-se e conviveu a todo momento com aquilo que havia de pior na nossa tradição — o mandonismo, o clientelismo, a pilhagem do Estado e a deferência subserviente aos caciques regionais.

No momento em que o país transitou para o regime democrático, a modernidade foi para a cama com o atraso. As gerações de FHC e Lula com as de ACM e Sarney. Do cruzamento, nasceram poucas virtudes e muitos vícios.

A principal virtude foi a provisão de alguns bens públicos para a maioria do eleitorado, cujo núcleo mais pobre passou a deter o poder do voto quando os analfabetos brasileiros puderam votar, a partir de 1985. Até mesmo o atraso foi forçado a curvar-se diante do eleitor, dando-lhe Plano Real e Bolsa Família.

Os vícios, porém, foram legião. Desde o início da Nova República, o Brasil consagrou-se como o paraíso dos grupos de interesse, onde minorias influentes e bem organizadas obtiveram tratamento privilegiado no Estado, em detrimento da maioria. A forma mais acabada dessa perversão é a Constituição de 1988 e suas infindáveis incongruências, que nos legaram, na expressão insuperável de Marcos Lisboa, uma "sociedade da meia-entrada" sem viabilidade financeira.

O resultado foi nefasto. Na Nova República, o Brasil gastou mais que muitos países desenvolvidos em educação e saúde, oferecendo serviços péssimos a seus cidadãos. Suas contas não fecham e seu nível de violência é de guerra civil. Renan continua onde está, incólume, apesar de tudo. O eleitor é muito mal servido.

Tal forma de gerir nossa vida coletiva é ineficiente e irracional, além de perigosa. Afinal, ela alimenta o descrédito do eleitorado, criando um caldo cultural no qual as instituições democráticas passam a ser malvistas.

No exterior, acontece algo análogo, à medida que vastas parcelas do eleitorado de sociedades livres deixam de validar e prestar apoio a suas próprias elites governantes. Lá, quem vem preenchendo o vácuo gerado por essa desilusão são a direita populista e diversos movimentos extremistas.

Os sinais de esgotamento proliferam por todo o país. Se nada mudar, terminaremos com o pior.


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