Aumenta o fluxo de venezuelanos que atravessam a fronteira para fugir do começo de uma crise humanitária. Só nos últimos 18 meses, calcula-se que 30 mil deles tenham chegado ao Brasil. Outros tantos cruzam a fronteira todos os dias em direção à Colômbia.
O problema é o desabastecimento de medicamentos e comida que assola a Venezuela, onde o governo entregou a gestão de suprimentos e de estoques às Forças Armadas, uma instituição que passou a ser associada a corrupção e arbítrio.
Trata-se do maior problema de política externa brasileira na América do Sul. Afinal, selar a fronteira é impossível e o fluxo crescente de pessoas pode sobrecarregar um sistema que na fronteira já é muito precário.
A boa notícia é que agora temos os instrumentos necessários para responder ao desafio de maneira inteligente. Já existem as condições para uma coalizão brasileira com Argentina, Colômbia, Chile, Cuba e Unasul para tomar a medida mais imediata: pressionar o chavismo a aceitar o envio de remédios e alimentos por via aérea, garantindo que a distribuição dos mesmos seja feita, por exemplo, sob a supervisão da Igreja Católica.
Como as autoridades em Caracas negam-se a reconhecer a gravidade do problema, contribuem para o êxodo silencioso de cidadãos para o exterior. Dar nome aos bois é uma precondição para começar a reverter a situação.
Além disso, o governo brasileiro conta com a nova Lei de Migração, marco que permite articular ministérios, prefeituras de fronteira e governos estaduais para reforçar os serviços básicos nas localidades afetadas e facilitar contratos de trabalho para os migrantes. Também seria fácil incentivar o fluxo de comércio entre os dois lados da fronteira, uma medida crucial para facilitar o retorno das famílias venezuelanas a suas cidades de origem o dia que a crise passar.
O desafio é gigantesco. Como ocorre no mundo inteiro, aqui também os migrantes que chegam com uma mão na frente e outra atrás tendem a despertar a hostilidade das comunidades anfitriãs. Defender a provisão de apoio a essas populações em meio à crise brasileira e ao ajuste fiscal é um drama maior para qualquer político que tente esse tipo de solução. Mas, se não isso, o quê?
O cenário alternativo seria menosprezar o fluxo de venezuelanos sem reconhecer a gravidade da crise. Isso empurraria essas famílias para a ilegalidade e para a informalidade. Elas continuariam buscando serviços públicos brasileiros, mas não teriam condições de construir as bases materiais para uma vida digna nem contribuir com impostos. Seria uma atitude mesquinha que apequenaria o Brasil.