Folha de S. Paulo


Democracia eficiente

O debate sobre o Estado nacional ganhou, no discurso de posse do presidente interino, Michel Temer, um bom conceito: o da democracia eficiente. Além da liberdade de opinião e de expressão, a batalha contra a desigualdade socioeconômica, antigas bandeiras da luta democrática, o cidadão de hoje deseja, e merece, ser bem cuidado e quer serviços públicos de qualidade.

Os menos favorecidos e os mais ricos pagam impostos, muitos impostos, e querem ver sua contribuição financeira devolvida em ações que funcionem na saúde, educação, segurança, entre outros. Não é isso que está ocorrendo. Parte do dinheiro arrecadado pelo setor público desaparece na ineficiência da máquina estatal, quando não se esvai pelo ralo sujo da corrupção.

A eficiência democrática exige uma reformulação na gestão do Estado, em todos os níveis. Nessa visão, própria do século 21, importa pouco a velha discussão sobre o tamanho do Estado, se mínimo ou máximo. Interessante é que o aparelho público seja eficiente, consiga gastar bem os impostos, atender convenientemente ao cidadão. E ser decente.

Busca-se uma democracia que funcione para atender ao cidadão e respeite todos. Gestores públicos precisam inovar. E tal tarefa exige romper com os velhos dogmas da política, superar a dicotomia clássica da direita versus a esquerda. Eu diria, nem só esquerda, nem só direita. Esquerda no social, direita na responsabilidade fiscal. Intervir para defender os fracos, liberalizar para avançar a economia. Gerar e distribuir a riqueza, não repartir a pobreza.

Minha saída do PT tem sido atacada, interpretada como mudança no que sempre defendi, por muitos militantes políticos. Quem assim pensa precisa se debruçar sobre os novos desafios do século 21, atinar que a crise brasileira deveu-se não à luta ideológica, mas foi fruto da incompetência e da ânsia pelo poder. Eu me recuso a aceitar que ser "de esquerda" se confunda com a irresponsabilidade do gasto público, praticando um desastre fiscal que, mais tarde, terá uma altíssima conta paga pelos mais pobres. São esses os primeiros e mais fortemente atingidos pelo desemprego, pela inflação e pelo colapso dos serviços públicos de que tanto necessitam.

Retomei as minhas crenças mais profundas porque quero contribuir para que o nosso país, e São Paulo, especialmente, evoluam em nosso arcabouço institucional. Propor modelos de gestão descentralizados e enxutos, turbinados pela tecnologia da era digital, que atendam ao cidadão sem carimbo ideológico. Cidadania plena, respeitosa e respeitada para todos, dentro de um Estado eficiente na sua função social e indutor do crescimento sustentável.


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