Folha de S. Paulo


Chantilly

Moda é bom e eu gosto. Melhor ainda quando é fonte de geração de emprego e de renda, de crescimento e motor da economia. Sem dizer que produz beleza e dá alegria quando se descobre um arranjo de cores, um brinco que cai como uma luva... independentemente do custo do vestido e de o brinquinho ser bijuteria.

Moda faz parte de uma gigantesca cadeia produtiva e é um dos mais eficazes instrumentos de soft power: Paris, Milão, Londres e Nova York que o digam. Movimenta, no mundo, mais de um trilhão de dólares por ano. Em 2014, o Brasil já era o 4º maior produtor mundial de vestuário.

Pequenas ou médias empresas brasileiras (80% do setor) empregam cerca de 1,3 milhão de pessoas (70% mulheres). E graças aos esforços do produtor Paulo Borges e outros, a Semana da Moda já ultrapassa mais de 20 anos! Momento de alta visibilidade, de glamour, de negócios e de trocas de experiência. Chantilly gostoso! E o bolo?

Infelizmente, agruras econômicas do país, desemprego alto, instabilidade política, disparidade de renda dos consumidores, difícil financiamento e apoio, pouca qualificação da mão de obra e escassez de costureiras e bordadeiras estão atrasando um possível e desejável crescimento da moda no Brasil.

Dois desafios instalaram-se: a introdução da tecnologia no marketing e na venda e a diminuição de mão de obra especializada.

Adaptar-se ao Instagram, ao e-commerce, à moda rápida ou permanecer na alta-costura? A Chanel tem 10 milhões de seguidores e algumas grifes brasileiras chegam a 2 milhões. As pequenas também investem em redes sociais. Faculdades de moda prosperam (o Pronatec oferece cursos), mas poucos querem aprender a costurar ou bordar. O bacana é ser estilista!

Quando a modelagem passou a ser ensinada nas faculdades, mudou o padrão da alfaiataria das camisas e das blusas brasileiras!

Seja pelas boas causas da emancipação feminina, ou pelo barateamento da roupa pronta, não se costura mais em casa e o bordado não é mais aprendido: desaparecem a tradição brasileira e uma fonte de renda.

Em 2003, quando prefeita, desenvolvemos um plano para a zona leste incentivando a indústria têxtil e de confecções. Organizamos ações num tripé: infraestrutura para escoamento da mercadoria, educação pública profissional e superior e incentivo ao investimento privado. Parte caminhou, parte foi abandonada. Devemos reestudar, propor o novo e vencer os atuais desafios. São tantos e tamanhos!

São Paulo pode planejar e investir na modernidade, na economia criativa e gerar empregos e oportunidades. Moda tem tudo para explodir em São Paulo. Precisamos crescer o bolo e aproveitar o chantilly!


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