Folha de S. Paulo


Molenbeek

Excluídos da vida da cidade, alvos de desconfiança e preconceito, sem oportunidades de educação e empregos, os guetos se multiplicam no mundo com características e consequências diversas.

Seja em Molenbeek, bairro de Bruxelas, onde nasceram ou se esconderam os autores dos recentes ataques terroristas, seja no centro de São Paulo, que abriga milhares de imigrantes e refugiados que tentam sobreviver, seja nas nossas periferias.

Na Europa, esses guetos abrigam já cidadãos, na terceira ou quarta geração, vivendo situações parecidas com as que enfrentaram seus avós.

A dificuldade de aculturação de pais e avós, por resistência dos próprios, acentuada, assim como pelas reais diferenças de mundos, reforça a distância e o problema de assimilação das novas gerações. O jovem não considera o país que nasceu como "seu", mas também não tem outra pátria para se identificar.

A sensação de não pertencimento à sociedade na qual convivem, sem dela usufruir, os torna presa fácil para o recrutamento terrorista. O jovem passa a se sentir valorizado, a ter uma missão, enfim, se percebe como alguém com identidade e que faz diferença.

Imagine o quão forte é esse sentimento, para levar a não só arriscar a própria vida, mas, às vezes, a oferecê-la como bomba humana. Impressiona, lendo relatos, como o ativismo terrorista no fundo pouco tem a ver com religião.

No Brasil, a história é outra, mas não tão diferente.
Entre os imigrantes mais recentes na capital paulista, temos 400 mil bolivianos e mais coreanos, africanos, chineses e, nos últimos seis anos, os "refugiados" haitianos.

Todos buscando emprego e vida melhor. Muitos submetidos a trabalho escravo, clandestino e vários com curso superior discriminados por serem estrangeiros.

Faltam políticas públicas de integração específicas para essa população.
A periferia paulistana está abandonada e enfrenta enormes problemas. E os jovens zanzando em bares e pancadões onde o caminho para a droga e a delinquência estão abertos? Aqui, quem faz o recrutamento, valoriza o jovem e encaminha para o crime e para a morte é o tráfico. É a ilusão de luz no fim do túnel.

A iniciativa exitosa dos CEUs não foi mantida à altura. A falta de oportunidade e de expectativa aprofunda-se com a crise econômica.

O Brasil negocia com a Alemanha a vinda de refugiados sírios, mediante pagamento para integração.

O Estado de São Paulo e a capital deveriam encarar a situação de forma generosa e inteligente, pela potência que representam, mas também por ser aqui que as consequências da falta de iniciativas para enfrentar problemas tão graves explodem.


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