Folha de S. Paulo


Blocos na rua

O Carnaval de rua, livre, leve e solto, se firmou em São Paulo. Chega a ser impressionante. Os 355 blocos paulistanos, distribuídos em 29 regiões, devem reunir em sua folia irreverente cerca de 2 milhões de pessoas, jovens especialmente, que esbanjam sua alegria longe do Carnaval tradicional, protagonizado pelas escolas de samba.

Abre-se nova fase no Carnaval de São Paulo. Não que os blocos de rua, em si, sejam uma novidade. Mas se pode perceber, crescentemente, e decididamente a partir de agora, sua conexão com o movimento contemporâneo da liberdade de expressão, cultural e política, provocada, e estimulada, pela era da comunicação digital.

Para essa moçada que criou o Ressaca do Diabo na Vila Mariana, que se divertiu no Ibirapuera, acompanhando o Monobloco e o Bicho Maluco Beleza, ou pulou na Zona Norte com o Bangalafumenga e o Sargento Pimenta, ou ainda acompanhou o estrelado Acadêmicos do Baixo Augusta, por todos os cantos da cidade se nota um rompimento com o passado carnavalesco, uma nova expressão popular desenhando o futuro do Carnaval.

Os nomes dos blocos, a animação e a inventividade sem pompa das fantasias são a alma da brincadeira carnavalesca. A juventude resgata e recicla os caminhos genuínos do nosso Carnaval.

No Sambódromo, por mais contagiante que seja o deslumbre que são as escolas de samba, cujo som inigualável leva todos a se sacudirem nas arquibancadas, existe uma espécie de barreira entre quem desfila e quem assiste. Nas ruas, não.

Os blocos são um espaço de participação, e as ruas se transformam numa espécie de praia paulistana, um espaço democrático, livre, cuja liberdade de manifestação faz com que todas as classes sociais se sintam protagonistas do seu próprio Carnaval. É uma ocupação do espaço público no grito: "A cidade é minha"!

E tem mais. O Carnaval da era dos selfies se recheia de aplicativos que facilitam o encontro de amigos, onde rola solta a paquera e se cultiva o amor da forma mais libertária. Mais que samba e dança, os blocos de rua misturados com a internet permitem um inusitado happening. Claro, existem excessos, que cabe ao poder público coibir, mas essa explosão de alegria precisa ser entendida, apreciada e apoiada sem preconceitos de qualquer ordem.

Vivemos um momento interessante: os carnavalescos não ficando no desejo e na frente da TV e se organizando para se divertir nas ruas e o Carnaval do Sambódromo maravilhoso, mesmo em época de crise. É o pessoal da criatividade que faz mais com menos!

O Carnaval paulista se fortalece e está atraindo mais turistas e mais paulistanos se divertem na cidade com essa ampliação!


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