Folha de S. Paulo


Consciência Negra

Assinei, em 2004, o feriado do Dia da Consciência Negra, proposto pela então vereadora Claudete Alves. Após muita reflexão, pois a pressão contra era grande (mais um feriado em São Paulo, cidade que não gosta de parar), tomei a decisão.

Doze anos depois, o mito da democracia racial persiste e políticas educacionais desde a infância, fortes e constantes, para mudar a realidade, são praticamente inexistentes.

As cotas universitárias são importantes e gerarão transformações, mas sem um plano mais abrangente e focado as mudanças serão mínimas.

O racismo no Brasil é "estrutural e institucionalizado". Essa foi a conclusão dos peritos da ONU que pesquisaram em 2013 a discriminação racial no nosso país.

A situação do negro não é segredo para qualquer cidadão que tenha olhos abertos, se informa sobre situações de violência, de assassinatos de jovens, de prisões, de favelas, de universidades e que vá a shoppings. O homem negro ganha bem menos que a mulher e homens brancos. Segundo o IBGE (2010), o rendimento médio das mulheres brancas corresponde a 67% do dos homens brancos. Na informalidade, a negra ganha em média 57,6% menos que as demais mulheres.

E então?

Para virar a mesa, temos de situar que o negro deu enorme contribuição cultural à formação do povo brasileiro e foi fundamental no nosso processo civilizatório: da introdução, enquanto escravo, do tear à forja. De influência negra são nossas comidas favoritas, nossa música e nossa dança.

É importante para o desenvolvimento da autoestima o protagonismo de negros e negras na TV em papéis não estereotipados. Como ouvi de Condoleezza Rice, meninos e meninas negros precisam de modelos empoderados.

Precisamos de mais projetos que sejam construtivos, como o Afrobetizar, que estimula crianças negras a se apropriarem de sua boniteza e a se integrar.

Ainda quando prefeita, adotamos livros paradidáticos infantis, trabalhando a questão racial. Em 2003, essa iniciativa inspirou a lei 10.639, que torna obrigatório no país o ensino sobre história e cultura afro-brasileira.

Essa lei precisa ser aplicada de forma significativa, pois tem condição, se bem conduzida, de ajudar no desenvolvimento da autoestima da juventude negra e diminuição de preconceito. Discussões nas escolas e meios de comunicação sobre os temas de gênero e raça e sua relação com exclusão e violência também acelerariam as mudanças. Mas o melhor instrumento para sair da pobreza e se integrar será sempre o acesso à educação desde a infância, pois esta é a trilha da oportunidade e cidadania.


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