Folha de S. Paulo


Isto é o novo

Está ocorrendo um movimento novo entre as mulheres de todas as classes, escolaridade, brancas e negras, que alguns já chamam de quarta onda do feminismo. Tem a ver com juventude e rede social. Tem a ver com o mundo da disparidade e da violência que as pessoas percebem contra a mulher e as novas ferramentas que hoje possuem. Tem a ver com um histórico de lutas, no qual tantas se empenharam por avanços e não aceitaram a pauta do retrocesso, ora em discussão na Câmara dos Deputados.

Nada mais passa impune. Seja o assédio público, vitimando uma menina de 12 anos que participava de um programa de cozinha na TV, seja o de artistas ou de homens públicos que deixam suas mulheres com olhos roxos e dentes quebrados. As mulheres estão explodindo. Caladas por anos, cansaram de represar dores, medos, culpas impingidas. O coletivo das redes permite a manifestação rápida, muitas vezes anônima, mas num dado momento há convergência. E isso provoca união e força.

Está instigante: ampliamos as pautas que tratavam de direitos de mulheres. Vivemos o que internacionalmente se chama de interseccionalidade. Estão as que nunca estiveram à frente no combate ao racismo, as que são parte "do meu corpo me pertence", as que lutam pelos salários e oportunidades iguais, as lésbicas, as que almejam garantia do conquistado... Todas juntas e misturadas num grande caldeirão efervescente. Isso é o novo.

Embaladas pelas oportunidades de troca –e aí parabéns à Folha e colunistas–, tivemos o engajamento de mulheres no #AgoraÉQueSãoElas. Vimos o "basta" acontecer em explosões nas ruas de várias cidades e nos corredores do Congresso com mulheres indignadas contra recentes votações na Câmara. Ter a diversidade de um palanque virtual de mulheres que traz bandeiras referentes à raça, gênero e classe, temas marginalizados, é um enorme diferencial em relação aos séculos 19 e 20, só possível com séculos de conscientização, mas principalmente com as tecnologias deste século 21.

Não daria nem precisamos ter convergência em tudo, tantas as pautas diferentes em debate! Justamente essa pluralidade de segmentos é o que amplia e incorpora manifestantes. É o advento do feminismo de massa que poderá ter enorme e não ainda avaliado impacto.

A voz feminina ecoa nas redes, nos impressos, na TV, contra a corrupção, exigindo decência, ficando nuas, organizando passeatas sobre assuntos específicos...

Nesta dita quarta onda, as mulheres saem da toca, unidas, destemidas e melhor municiadas, para lutar pelo que acreditam, pelo respeito, pelas diferenças, pelo específico e por um mundo com olhar mais feminino e menos violento.

Nada mais será como antes no quartel de Abrantes.


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