Folha de S. Paulo


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Na divisa com Diadema, zona sul de São Paulo, perto do CEU Alvarenga, fica o bairro Vila Guacuri. Nesta região de extrema pobreza e violência, Heloisa Melillo funda, em 2008, a Casa de Cultura e Cidadania e transforma, se não a região, a oportunidade de vida melhor para milhares de jovens. O projeto surgiu por provocação da AES Brasil de apoiar um programa de transformação da realidade das comunidades onde atuavam.

A pedagoga tinha o sonho de criar um programa de educação que, pela arte, esporte e exercício de cidadania, completasse a desgastada escola pública. Foram inauguradas mais cinco unidades no Estado e uma no Rio Grande do Sul. Ao todo, 35 mil crianças e jovens já foram atendidos nas atividades regulares de arte e esporte e 1,5 milhão de pessoas, nas oficinas de geração de renda, formação profissional, cinema, circo, teatro.

A Lei Rouanet e a renúncia fiscal de incentivo ao esporte são os grandes facilitadores para obtenção de patrocínio.

Tantas realizações impressionam. Ver e conversar com os jovens do projeto, os professores e a empolgação de Heloísa nos faz acreditar que são muitos os caminhos que podemos percorrer para contribuir.

Escolas como os CEUs, hoje referência, são o caminho certo para diminuir evasão escolar, violência na região, além de aumentar a autoestima e o conhecimento de que no mundo existem mais trilhas, avenidas e profissões do que a sua comunidade apresenta.

O que vi e ouvi no Guacuri guarda semelhança com o CEU. Haja vista o depoimento de Márcia Oliveira, que se formou eletricista, hoje em ótimo emprego, e de Ana Inês, que cursou por dois anos empreendedorismo cultural, que visa com este aprendizado que o jovem trabalhe no que aprendeu e dê uma contrapartida ao bairro. Ana agora monta projetos para captação de incentivos, faz planilhas de custos e prestação de contas, e tudo isso permitiu criar um grupo que trabalha em audiovisual com o tema da drogadição.

Lembrei de jovens, que nunca haviam visto um instrumento até chegar ao CEU e que hoje tocam em orquestras, de uma menina que, numa visita ao "seu" CEU, disse-me com grande orgulho "agora eu não digo mais que moro na favela, mas que estudo no CEU", da atleta Thauany Lee, do CEU Veredas e que está disputando a Olimpíada. Jovens que não teriam chance de se desenvolver e contribuir com seu talento para a sociedade.

O ambiente de aprendizado conta. E tem de ser contraponto à violência que as pessoas encontram no ambiente externo ao do aprendizado.

O governo contribui, a sociedade age, as parcerias acontecem e almas inspiradas como Heloisa nos fazem acreditar que, juntos, podemos ser fantásticos agentes de transformação.


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