Folha de S. Paulo


Dia dos Namorados

A família avalia, os amigos palpitam, a sociedade aceita ou condena... e as pessoas continuam se apaixonando. A internet e as redes sociais, as notícias, as novelas e as propagandas tornaram exponenciais a intromissão no privado e a discussão do que é público. Todos sentem-se no direito de se colocar, o que é ótimo, pois assim é que a humanidade caminha.

Desta vez, no banco dos réus está o comercial de O Boticário com a campanha do Dia dos Namorados. Setores que se sentiram ofendidos com a propaganda, que retrata casais do mesmo sexo se abraçando enquanto trocam presentes, exigem a retirada do que consideram imoral e prejudicial à família.

Esse comercial e o da Motorola, que adere ao tema com campanha promocional da Parada Gay do próximo domingo, não são os primeiros que ousam desafiar o preconceito, seja de raça, etnia ou sexo.

Assim como as novelas desde 2010 aumentaram a inserção e exposição da diversidade sexual, a propaganda segue a onda.

A novela é riquíssimo instrumento de fomentação da discussão de comportamentos em transição e pelos quais a sociedade se debruça. Acerta, erra a mão, toma partido, mas indubitavelmente vai mais longe do que mero entretenimento. Faz a família conversar sobre temas que não chegariam nem perto, anima as discussões nos bares, cria brincadeiras... O povo se diverte, questiona, concorda ou não, mas também avalia suas convicções e, de certa forma, invariavelmente aprende.

Os diversos segmentos da sociedade que se sentem atingidos, dos mais conservadores aos que lutam contra preconceitos, acompanham, questionam, posicionam-se e a sociedade se move.

A atual novela Babilônia iniciou o primeiro capítulo com um beijo de duas grandes atrizes e um assassinato a sangue frio perpetrado pela vilã. O beijo causou forte reação. A violência nem tanto. Mas a novela não agrada: bandidagem e podridão demais, imoralidades diversas, falta de caráter.

O clima é paradoxal. Lembra aqueles momentos de grandes transformações a caminho. A sociedade se mobiliza em torno da intolerância e indignação, como atestam os protestos às mencionadas propagandas e novelas, assim como contra a corrupção na política.

Entrementes, tudo vai sendo processado e assim como a escravidão hoje produz vergonha, o divórcio não marginaliza, a mulher é reconhecida em sua formidável força de trabalho e o Supremo Tribunal Federal admite a união estável para todos.

O século 21 se inicia clamando por liberdade, ética, respeito, transparência e amor.


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