Folha de S. Paulo


Francis e nós

Paulo Francis foi um jornalista incomum, o último expoente de um estilo jornalístico agressivo, personalista, exímio na retórica furibunda dos palanques, dos teatros, amante do espetáculo e do confronto.

Era o grande sobrevivente de uma prosa de tribuno, que prosperou na imprensa brasileira ao longo deste século, em particular no Rio. Francis é da linhagem de Lacerda e Hélio Fernandes.

Ele está mais próximo destes do que para os que fizeram revoluções na imprensa, como as equipes lideradas por Pompeu de Souza, Janio de Freitas, Samuel Wainer, Alberto Dines, Otavio Frias Filho.

Talvez seja questionável como assinalou Caio Túlio Costa neste espaço, para grande irritação do personagem considerar que Francis tenha tido as características do jornalista e assim fosse avaliado.

Não importa. Como repórter, fez trabalhos de peso, na linha da grande reportagem comentada, mas com os olhos do espectador cuja visão é tão poderosa que acaba por se sobrepor aos fatos, às vezes à custa de desfigurá-los inapelavelmente.

A rigor, sua influência para a cultura jornalística foi nefasta, pelo que trouxe de permanência do idiossincrático, preconceituoso e persecutório. Que o digam suas vítimas.

Francis realizava o desejo secreto de muitos profissionais. Praticava um jornalismo de desmesura, romântico na essência, sem matizes, sem dialéticas e sem submissão a qualquer constrangimento.

Francis seguia em frente, alheio às carcaças fumegantes dos mortais. Lê-lo era gozar um pouco os prazeres dessa esfera de poder. Era muitas vezes um alívio divertido, um abandono a esse incontido e irresponsável transbordar, proibido à maioria.

Deixou seguidores, como foi notado por um atento observador, nos artigos que comentavam a sua morte.

Neles, a avaliação racional, distanciada, crítica, do papel de Francis para o jornalismo foi, em geral, deixada de lado.

Amigos afinal ele passou por muitas redações fizeram homenagens, deram relevo a sua doçura no trato íntimo. A apreciação de sua conduta privada inibiu ou enviezou a análise da atuação pública.

Notando isso, o leitor Caio Rossi de Oliveira entrou em contato com o ombudsman para criticar a cobertura da Folha: ''A impressão que passa é que, em uma atitude corporativista, seus pares, mesmo os mais éticos em sua profissão, passam a defender o direito a acusar levianamente qualquer um, a qualquer hora, e sem provas, como era prática de Paulo Francis''.

Salvo uma ou outra exceção, os artigos sobre a morte dele fixaram-se em convicções extraídas de relações interpessoais. Podiam ter o mesmo título: "Francis e eu".

Como se falou, Francis é insubstituível, só haverá um Francis. Mesmo porque, ele mesmo reconhecera, seu tempo passou. A imprensa e a sociedade são bem diversos em relação ao Brasil de quando ele começou.

O JOGO VIROU

Muitos leitores sentiram-se motivados pela coluna de domingo passado (''Abertas'') e procuraram o ombudsman para comunicar sua opinião a respeito da publicação de fotos, na sexta-feira anterior, de um incidente violento envolvendo policiais militares e um menino de rua em São Paulo.

Das 39 pessoas que entraram em contato com esse fim, por telefone, fax, carta, visita ou correio eletrônico, 29 elogiaram a Folha pela publicação dos flagrantes, 10 criticaram o jornal.

Dentre os que elogiaram, houve expressões de júbilo (''Esta é a minha Folha!'', por exemplo). Quem criticava, atacava o tom demagógico e antipolicial que identificava na publicação das fotos.

No domingo passado, o placar era de 5 a 0, contra a publicação.

BATE-PAPO

O ombudsman participa de ''Bate-Papo'' com os leitores nesta Quarta-feira de Cinzas, das 18h30 às 19h30, no Universo Online.


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