Folha de S. Paulo


Textos da Folha têm erros demais

É cada vez maior o número de leitores que escrevem ou telefonam para reclamar dos erros de português nos textos da Folha. Tem-se a sensação de que o jornal caiu de qualidade nessa área, pois muitos textos apresentam um ou mais erros de concordância, crase, regência ou ortografia.

Há pouco mais de um mês, a leitora Claudia Cavalcante, de São Paulo, escreveu a respeito para protestar contra a falta de capricho nos textos da Folha "Comprar um jornal, qualquer um deles (principalmente o mais importe do país), significa estar comprando, além de notícias, um produto que respeita as regras da nossa língua, já tão tripudiada pelo nosso próprio subdesenvolvimento."

O funcionário público Paulo Araújo e o eletricista Macio Rosa (ambos também da capital de São Paulo) se queixam que a repetição dos erros acaba dificultando o entendimento e tornando a leitura cansativa.
A professora Inês Machado, residente em Londres, é daquelas que não economizam elogios ao jornal para introduzir sua queixa. "Embora A-D-O-R-E ler a FSP (senso de humor, informativa talvez às vezes até tendenciosa, mas qual o jornal que não é?), tenho ficado preocupada com os inumeráveis erros encontrados diariamente".

Há leitores que se especializaram em colecionar esses erros ao longo de várias edições, como a pesquisadora Elena Conronado (da capital). Ela pinçou esses exemplos em edições da Folha "hogeriza", (9 de abril), "tragelação", (10 de abril), "fora de ora", (11 de abril).

Pela irritante frequência com que essas coisas se repetem, pode existir a impressão de que a direção do jornal não da maior importância ao problema, o que é agravado pelo fato de que, ao contrario do que acontece com erros de informação, os de português raramente são corrigidos.

A secretária-interina de Redação, Renata Lo Prete, declara que o comando da Redação da Folha tem consciência e exerce como sempre controle rigoroso sobre o numero de erros de português no jornal, procurando cobrar um maior zelo dos jornalistas quanto a correção de seus textos. Atribui à implantação de terminais paginadores operados pelos editores (em lugar dos diagramadores) repercussão sobre as condições de trabalho numa extensão que pode ter propiciado a ocorrência de mais erros.

Parece que existem hoje mais erros ainda do que o padrão apenas razoável, vale registrar a que a Folha acostumou seus leitores. Zombando dos erros, a leitora Beatriz de Burgos Pene, de São Paulo, pergunta: "Será que não existe" mais "revisor".

Não, não existem mais revisores na Folha desde a primeira metade da década passada, quando passou-se a exigir dos jornalistas domínio absoluto da língua portuguesa, "texto final", o que inclui perfeição na preparação dos textos editados.

Há várias razões para que os textos da Folha sejam tão ruins. Uma delas tem a ver com o esforço de proporcionar o melhor jornal aos leitores através da publicação de edições no mesmo dia (nacional, São Paulo, interior de São Paulo, por exemplo), em que as notícias se distribuem por quase uma dezena de cadernos numa operação de grande complexidade, que absorve e dispersa muita energia.
A mais importante das razões, porém, pare ser a destruição do ensino básico no país, cujo resultado catastrófico e expressa na perda de conhecimentos e habilidades no manejo do idioma em toda a sociedade, inclusive na imprensa.

Compreende-se que editores deem mais atenção a outros aspectos da informação do que a determinados cuidados linguísticos num produto feito com extrema rapidez como um jornal. Mas quando a incidência de erros graves atinge número expressivo, a ponto de comprometer o padrão de qualidade que o jornal conquistou em outros terrenos, algo precisa ser feito com urgência a respeito.

ALTA E BAIXA
ALTA para o jornal "Gazeta Mercantil", por anunciar com exclusividade em manchete na quinta-feira passada que Fernando Henrique era o novo ministro da Fazenda.
ALTA para "IstoÉ", por levantar o caso das supostas vinculações entre o ex-ministro Eliseu Resende e a empreiteira Norberto Odebrecht, que acabou resultando na mudança ministerial.


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