Folha de S. Paulo


Mais escândalos

Difícil imaginar algo mais chamativo e ao mesmo tempo tão repugnante como o relato dos supostos vícios pessoais, traições conjugais e ritos ocultos a que se entregava o ex-presidente Collor. O acesso aos últimos e estarrecedores detalhes desse mundo foi possível através de um trabalho do repórter Teodomiro Braga, correspondente do "Jornal do Brasil" nos Estados Unidos. O jornalista obteve de Pedro Collor, irmão-inimigo do ex-presidente, detalhes sobre o livre que está escrevendo e que será publicado no mês que vem.

A série de reportagens de Braga foi inaugurada de maneira bombástica -com uma certa concessão sensacionalista até- na sexta-feira passada. O "JB" deu manchete em dias linhas ao longo de toda a extensão superior da capa de sexta-feira: "Livro de Pedro Collor liga irmão a orgias, drogas e magia negra".

A capa trazia ainda dois "olhos" (recurso de edição usado para dar destaque aos melhores trechos de textos longos) ao lado da chamada da manchete: "Rosane ameaçou contar à imprensa que ela colocava supositórios com cocaína em Fernando" e "Rosane engravidou, mas Fernando não poderia ser o pai porque fez vasectomia e não contou a ela". Outra das informações pesadíssimas da reportagem insinua a existência de um suposto relacionamento sexual entre Collor e o empresário Paulo Octávio, seu amigo desde a adolescência, o lado de uma foto em que os dois estão abraçados...

O "JB" passa por um longo e conhecido período de dificuldades financeiras, perda de leitores e de prestígio. E, portanto com uma ânsia redobrada, beirando a imprevidência (vale lembrar que o autor da reportagem e outros jornalistas do "JB" acabam de ser condenado por crime contra a honra do ex-ministro do STF Cordeiro Guerra) que o jornal se atira para tentar extrair o máximo de impacto quando dispões de notícias exclusivas.

Tamanha sofreguidão levou a que o jornal carioca, na edição da última sexta-feira, tomasse como absoluta verdade tudo que Pedro Collor diz estar presente no livro. O jornal não se distanciou da fonte e também não se preocupou em ouvir a versão de Fernando Collor e Rosane para as acusações escabrosas de que são salvo.

É irônico que o conteúdo até agora revelado do livro de Pedro Collor se parece em muito com os detalhes publicados há pouco mais de dois anos pelo jornalista inglês não tinha documentos ou fontes em que basear suas informações contra o "Fernandinho do pó". Teve que retratar-se publicamente e até pagou uma reparação simbólica a uma instituição de caridade.

Mas o que é mais importante em tudo isso é que o país tenha eleito e ainda se deixado governar por uma pessoa comas características de Fernando Collor, sem te sido informado pela imprensa a respeito de fatos fundamentais do "currículo" de presidente da República.

Quanto aos leitores da Folha, estes ficaram privados mais uma vez de informações inéditas e relevantes, uma tendência que vai se transformando em rotina. Um bom caminho para rompê-la talvez fosse concentrar as investigações em algo bem mais importante do que os supostos hábitos dissolutos de um presidente desvairado: as relações entre expoentes do empresariado brasileiro e o esquema PC. Há dezenas de horas de depoimentos na polícia Federal e milhares de documentos à disposição para quem quiser encarar a empreitada.

ALTOS E BAIXOS

ALTA para.. "O Globo" peça publicação na quinta-feira passada das "confissões d Belisa Ribeiro". Nelas, a jornalista se declara arrependida de ter colaborado com o governo (embora admita que isso agora não é grande demonstração de coragem), diz que Cláudio Humberto tinha conhecimento do esquema PC e acusa Cleto Falcão de tentar comprar o seu silêncio.

BAIXA para.. Esportes da Folha, pelas falhas na checagem de informações que publica. Na terça-feira saiu em alguns exemplares o resultado de um jogo Corinthians e Fluminense, que não existiu. Na sexta-feira, o quadro "Jogos da Rodada" anunciou que o jogo Ponte Preta x Corinthians seria naquele dia às 20h40. Foi ontem às 16h.

BAIXA para.. a coluna "Talk of The da Folha, por usar de maneira racista a expressão "bando de zulus" para referir-se às pessoas que se reúnem na área conhecida como parque do Povo, na Vila Olímpia, para batucar e beber nos fins-de-semana.


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