Folha de S. Paulo


LA urgente

Já foi dito que a hiperconcorrência entre Folha e Estado tem sido benéfica pois ela motiva ambos ao esforço de oferecer melhor produto a seus leitores. Ocorre que um dos aspectos dessa concorrência está fora da Redação, mas acaba influenciando demais em suas decisões é a batalha da distribuição.

Parece provado que o jornal chega antes às bancas vende mais. Para fazer frente a isso, criaram-se escalas de conclusão nas diversas partes do jornal que devem funcionar como um relógio. Mas no esforço de concluir logo a edição para chegar cedo, alguns jornais acabam por isso perdendo a atualidade, a vantagem termina sendo um peso.

Mas essas duas características envolvem no limite uma contradição, que por vezes fica aguda: quanto melhor um jornal, isto é, quanto mais atual ele for e portanto mais tarde sua edição for concluída, menos ele venderá. Por outro lado, um jornal que não traga notícias atuais, mas que não chegue cedo, logo tende desinteressar seus leitores.

O desafio é conseguir um equilíbrio racional entre esses dois aspectos da questão, o que nem sempre acontece. Há situações em que um jornal, em nome da qualidade da informação deve chegar mais tarde e correr o risco de vender alguns exemplares a menos. Quem pode obrigar essa opção? Os fatos, a notícia e o imprevisto.

Um bom exemplo foi a cobertura dos distúrbios que ocorreram em Los Angeles na semana que passou. Rememorando: na quarta-feira, um júri constituído majoritariamente por brancos e sem nenhum negro absolveu quatro policiais acusados de usar violência excessiva contra um negro acusado de uma infração de trânsito.

A principal prova da acusação era um videoteipe, feito em segredo por um morador vizinho ao local em que a vítima, Rodney King, fora massacrada pelos quatro policiais.

As primeiras informações sobre o surpreendente veredicto ocorrido nos EUA começaram a chegar à Redação da Folha às 23h de quarta-feira. A editoria de Exterior incluiu a notícia com destaque no alto da página interna, mas o jornal não registrou o fato imprevisto em sua primeira página.

Pior que isso, entre 23h50 (com o jornal fechado, portanto) e meia-noite chegaram informações de que manifestações de protesto em Los Angeles degeneravam rapidamente em saques, quebra-quebras, incêndios. Presos a uma estranha ordem superior que só autorizava mudanças na edição que estivessem relacionadas à votação do mínimo em Brasília, os responsáveis pelo jornal no momento simplesmente nada fizeram, privaram os leitores da informação.

Isolado, talvez o caso não expresse nada além do que uma notícia mal aproveitada. Mais importante é que ele constitui um novo sinal da degeneração dos padrões jornalísticos da Folha: menos atenção para a temperatura noticiosa das edições, apego cego a normas ditadas pelo esquema comercial-industrial e alienante menosprezo para o noticiário internacional. Argumentar que os outros grandes jornais não fizeram melhor do que a Folha no episódio não desculpa. Pode ser apenas indicação de que a deficiência ganha adeptos.

A MÉDIA DA MÍDIA
Leitores de "O Globo" e do "Jornal do Brasil" presenciaram nos últimos dias um bate-boca infernal entre os dois jornais. "O Globo" revelou que o "JB" ganhou conta milionária de publicidade do Banerj (Brizola). O "JB" respondeu mostrando empréstimo privilegiado que "O Globo" recebeu da Caixa Econômica Federal (Collor). A lavagem de roupa suja chegou aos editorais em que os publishers Roberto Marinho e Nascimento Brito trocaram acusações pessoais.

ALTA E BAIXA

BAIXA para a Folha por permitir que suas páginas noticiosas da quinta-feira passada fossem transformadas em espaço para campanha pela demissão do ministro Marcílio Marques Moreira. Nada a contestar caso a Folha tenha essa posição em seus editoriais, mas tudo contra quando o corpo noticioso do jornal abandona uma posição equidistante. A manchete daquele dia foi "ACM ataca política econômica de Marcílio", baseada em uma entrevista do governador baiano que em essência não trazia novidade em relação a declarações anteriores sobre a administração da economia. No dia seguinte, a resposta de Marcílio não recebeu destaque proporcional ao ataque.

ALTA para a Folha pela qualidade do texto do primeiro número de sua revista dominical.

BAIXA para a Folha pela excessiva incidência de problemas de acabamento em suas edições. São muitos textos truncados, com partes ininteligíveis, português sofrível e com erros de revisão. Há leitores irritados, como Agenor Soares dos Santos, de Porto Alegre, que enviou dezenas de recortes mostrando erros da Folha. O leitor reclama do que chama de "mania" do uso do verbo dever no presente do indicativo para todos os casos de probabilidade, previsão ou quase certeza (sem levar em conta a ambiguidade desse verbo). Num dos recortes de um texto, que saiu na capa da Folha, o verbo é usado cinco vezes!


Endereço da página: