Folha de S. Paulo


Pesquisa de opinião e ditadura

Poucos episódios da história recente da América Latina suscitaram reação tão desproporcionalmente fria e distante como o recente gole de Estado do presidente peruano Alberto Fujimori. Após a perplexidade que sempre acompanha esse tipo de violência, a sua surpresa maior talvez tenha sido a apatia resignada demonstrada pela própria população peruana.

Mas o fenômeno não se restringe ao Peru, infelizmente. Há uma certa omissão generalizada, uma introspecção epidêmica, reforçada pelo sentimento de que as coisas são mesmo assim, que não existem mesmo bases democráticas sólidas na América Latina que o acarreta -como evitar?- a erupção periódica de um golpe aqui outro ali no continente. É aceitar e conviver com isso.

Mas preocupa que este novos tempos de apatia e tolerância em relação a reincidência de períodos autoritários na América Latina estejam agora contaminado como nunca a imprensa e ameace afetar seus valores, seus anteparos críticos, seu ceticismo.

Merece atenção no caso o sério deslize cometido pela Folha no noticiário dos dias seguintes ao golpe do Peru. Por mais de uma vez o jornal noticiou com destaque que a grande maioria dos peruanos apoiava o ditador peruano. Citando a empresa "Peruana de Opinião Pública". O jornal, com base em noticiário de agências internacionais de notícias, informou que 73% da opinião pública apoiava o golpe.

Por trás do ar pretensamente frio e objetivo da notícia estava a mais completa desinformação. Não há nenhuma novidade em dizer que pesquisas de opinião são radicalmente influenciadas pelas condições em que são feitas.

Um golpe com prisões, tanques nas ruas, fechamento do Congresso gera uma situação d tal ameaça e intimidação que abala a liberdade de opinião e por consequência a confiabilidade dos resultados de qualquer pesquisa. Muitos críticos potenciais do golpe podem omitir ou se intimidar na hora de responder, o que afeta o resultado.

A própria divulgação do resultado da pesquisa, numa situação em que soldados armados exerciam a censura prévia nas redações de jornais, inviabilizava que se atribuísse seriedade a tais enquetes, ainda menos que fossem divulgadas sem maiores esclarecimentos.

Graças aos rigorosos critérios técnicos usados pela Folha e seu instituto de pesquisas, o DataFolha, o casamento entre reportagem e pesquisa esta incorporado à moderna cultura jornalística brasileira, gozando de ampla credibilidade. Cabe à Folha zelar para que tal conceito seja preservado.

O CASO DA MOTOCICLETA

Há três meses o senhor Joel de Castro, um administrador que mora na zona sul de São Paulo, ligou para mim para fazer uma reclamação a respeito de um assunto incomum, mas que era obrigatório acolher.
Castro queixava-se de que a pessoa que faz a distribuição da Folha aos assinantes da rua em que mora utiliza uma motocicleta com escapamento aberto, acordando todo mundo. O cidadão fornecia o endereço do assinante da Folha na rua em que mora e pedia providências.

O caso foi levado à diretoria de Circulação da Folha, que solicitou providências imediatas e diversas instâncias subordinadas até o agente autônomo de destruição, que comunicou de volta afirmando que estava dando ordem a seu funcionário no sentido de reparar o cano de escape, sob pena de demissão em caso contrário. Cinco dias após a reclamação, o cano estava consertado, a moto silenciosa e o reclamante pôde novamente dormir em paz.

ALTA E BAIXA

BAIXA para o jornal "O Globo", por omitir informação contrária À empresa Globopar quando esta teve contra si uma liminar judicial suspendendo empréstimo que obtivera junto à Caixa Econômica Federal, mas publicar em primeira página na edição da quarta-feira passada decisão posterior da Justiça, que considerou o empréstimo legal. Em outras palavras, houve manipulação de informações para atender a interesse particulares.

BAIXA para a revista "IstoÉ Senhor", por publicar reportagem sobre escândalos em que está envolvido Antonio Sérgio Fagundes, o ex-presidente do Metro de São Paulo, apenas para tentar eximir de responsabilidade os governados Orestes Quércia, que era chefe de Fernandes no tempo que enriqueceu supostamente às custas dos cofres públicos. Intitulada "O pai do escândalo", a reportagem responsabiliza Mario Covas pela indicação de Fernandes. Quanto a Quércia, que prestigiou Fernandes durante os quatro anos de sua gestão no Palácio dos Bandeirantes, nenhuma crítica.


Endereço da página: