Folha de S. Paulo


A Folha só pensa naquilo

Foi instantâneo. A publicação do artigo dizendo que a Bíblia insinuava a prática de homossexualismo por parte do rei Davi provocou reação irada de muitos leitores.

O artigo foi publicado na Folha do dia 17 de março. Dizia o título. "Bíblia relata vários casos de amor entre homens". Um subtítulo completava: "Livro cita relação de homossexualismo do rei Davi".

O texto propunha uma interpretação da Bíblia segundo a qual o rei Davi, para ficar com Jônatas (seu amado, diz o jornal em tom de blague), teria desprezado a proposta de Saul, que lhe oferecera a filha Micol em casamento.

Sobre o assunto, recebi dez cartas. Todas criticavam a Folha por abrigar interpretação discordante do texto bíblico. Variavam da revolta à gozação. Um chegou a dizer que a Folha só pensa "naquilo". Cinco apontaram erro de informação. Diziam que Davi haviam sim casado com Micol.

Confrontada com as evidências do texto, a Folha publicou um "erramos" no domingo passado, dizendo que Davi aceitara a mão de Micol em casamento.

A correção nesses casos, não corrige quase nada. Aquela que era talvez a principal informação do texto estava errada. Sem ela, o castelo desmorona. Mas a correção publicada em geral não se preocupa em contar toda a história de novo.

A maior infelicidade da Folha não foi o erro de informação. Foi incidir na mesma atitude que visava afrontar contemplar apenas uma visão do texto, não relatar o "outro lado" da interpretação bíblica, segundo o qual a relação entre Davi e Jônatas era de profunda amizade.

É forçoso perceber que o episódio é significativo de uma certa tendência que passa no jornalismo da Folha. Uma inclinação tão grande pelo que é chocante, de moldar a notícia, de forçar a barra, sem o necessário embasamento e respeito pela complexidade dos fatos ou dos textos. É óbvio que o jornal não pode reduzir a interpretação da Bíblia à versão cândida e moralista que a Igreja sempre lhe procurou dar. É evidente que pode e deve propor outras abordagens do texto, mas não à custa de desprezar informações presentes na Bíblia que prejudicam sua tese absoluta a respeito do "homossexualismo do rei Davi".

MUNDO PEQUENO

São cada vez mais incisivas as queixas de leitores a respeito da redução do noticiário internacional da Folha. Começa a tornar-se rotina a destinação de apenas uma página para o assunto. Reclama-se também quanto ao conteúdo. O leitor Pedro Freire, de Vila Mangalot, na capital de São Paulo, diz: "Acho que aspectos bizarros têm eventualmente ocupado o espaço de temas mais concernentes para quem quer se manter informado sobre a situação mundial". O leitor cita como exemplo o destaque dado recentemente ao divórcio de Cicciolina, a atriz pornô. "O Estado de S.Paulo" já percebeu a debilidade da Folha nesse terreno e tem aumentado o volume de sua cobertura internacional.

OS TREINOS LIVRES

O leitor Giacomo Sartori reclama que a Folha noticiou de maneira extremamente reduzida as recentes eleições ocorridas na Europa. Numa delas, registrou-se o tropeço dos socialistas e um avanço da ultradireita na França. Na outra, um fato histórico foi registrado: a queda nas urnas do que restava do último regime comunista europeu. Sartori é de Bragança Paulista (SP), onde recebe a edição nacional da Folha. Na terça-feira passada, o jornal dedicou apenas cerca de 20 linhas para registrar a queda dos comunistas albaneses e não mais de dez linhas para o sucesso da ultradireita francesa.

Mas a queixa maior de Sartori tem a ver com esportes. Diz que o jornal que recebeu no domingo passado anunciava uma colocação errada de Senna na largada. A edição nacional da Folha fechou às 15h de sábado e trouxe apenas o resultado dos treinos livres, não dos treinos oficiais em que Senna obteve uma colocação diferente. Muita gente de fora da capital de São Paulo (que recebeu a edição mais atualizada) ficou confusa.

SEM LETRAS E CIÊNCIA

É expressivo também o contingente dos que se ressentem da falta dos cadernos Letras e Ciências. Os primeiros têm saudades de um número maior de resenhas do que é publicado atualmente no caderno Mais" Os outros - alguns pais - reclamam de que o antigo formato de Ciência facilitava e organizava a leitura para o público mais jovem.

ALTA E BAIXA

ALTA para "O Estado de S.Paulo", pelas revelações a respeito do suposto "esquema PP", que teria sido montado para intermediações de verbas da Petrobras por pessoas ligadas ao secretário de Assuntos Estratégicos, Pedro Paulo Leoni Ramos. A Folha procura evitar a cobertura do assunto, em que até agora tem sido furada pelo concorrente.

ALTA para a Folha, por galgar a uma média superior a 530 mil exemplares de circulação paga (assinaturas mais venda em bancas) no mês de fevereiro contra pouco mais de 373 mil registrados por "O Estado" em média na mesma edição.

ALTA para a "Veja", pela excelente cobertura do caso Magri. Depois de furar toda a imprensa, ao revelar o conteúdo da fita em que o ex-ministro Antonio Rogério Magri supostamente admite ter recebido suborno, agora a revista descobre a identidade da mulher que passeou com ele na Suíça.


Endereço da página: