Folha de S. Paulo


Morte cerebral

Aos olhos de muitos leitores há uma estridência exagerada, um desperdício de espaço, na troca de acusações entre Folha e "O Estado". Nas últimas semanas, ambos dedicam em média uma página por dia ao assunto. O tema é cansativo, repetitivo, adquiriu proporções exageradas, interessa a poucos, toma espaços preciosos. Este é o tom das reclamações da imensa maioria dos que entraram em contato comigo para falar do assunto.

Com a lentidão conhecida, "O Estado", após dois meses de luta contra sua artrose editorial, esboça uma pífia reação frente ao estrago feito pelo "Folhão" em sua vendagem dos domingos (caiu mais ou menos 40 mil exemplares; a Folha cresceu mais ou menos a mesma coisa). Manipula as ações de um tal "Comitê pela Democratização dos Meios de Comunicação", tenta incentivar uma inviável aliança entre o PT e o governo Collor contra a Folha.

Levada adiante, nos tribunais, a estratégia tem poucas chances de resultar em outra coisa senão em nova vitória, em mais promoções para a Folha. Há inúmeros jornais com anúncios classificados grátis no Brasil, alguns deles editados pelo próprio grupo de "O Estado de S. Paulo".

O resto é óbvio: o roteiro de ofertas grátis de empregos da Folha tem erros? Há arapucas que se valem dele para enganar incautos? Provavelmente deve ser verdade, mas eles são as mesmas que anunciam em "O Estado" há anos.

Se representa um retrocesso em termos de prioridades editoriais, pela diminuição relativa do espaço, da energia dos recursos destinados ao jornalismo investigativo e ao atendimento editorial aos seus diversos públicos, o "Folhão" tem um mérito comercial. Ele simplesmente liquefez a blindagem do cartel que foi montado por algumas agências de captação de anúncios e "O Estado", e se reforçou em décadas de privilegiamento, tráfico de influência, de enganação dos anunciantes e manipulação dos interesses do mercado.

Fato consumado, a única iniciativa tomada por "O Estado" é defensiva, volta-se apenas para adiar o pior, visa manter os leitores que ainda não perdeu. Constituiu na verdade uma tentativa desesperada de estancar a sangria dos leitores de classificados, que insistem em migar no sentido "Estado", Folha. Uma das "armas fulminantes" com que ardilosos estrategistas se divertem no jornal da Marginal segue a parte e o uso das idéias alheias, no caso, as minhas. O jornal repete a seus leitores todos os dias as críticas que fiz ao "Folhão".

No terreno em que realmente a Folha poderia ser ameaçada é o da qualidade do serviço informativo-editorial prestado a seus leitores, "O Estado" se mantém paralisado. Reage, por reflexo, a estímulos externos, mas o que se pode fazer diante do profundo sono cerebral que o domina, o qual nem mesmo a enorme descarga voltaica dada pelo "Folhão" consegue sacudir?

IPTU

O leitor e psicanalista Luiz Tenório Oliveira Lima liga para dizer que se sentiu um cidadão afrontado pelo noticiário e por dois editoriais da Folha, os quais supostamente falavam em nome da cidadania para criticar o aumento do IPTU da cidade de São Paulo.

Diz que a Folha adotou uma linha demagógica no assunto, ao atribuir aos cidadãos - isentos do pagamento, na grande maioria- uma reprovação que não é deles, mas sim a opinião de algumas entidades patronais.

Considera que o noticiário se pressa ao uso político neste ano eleitoral, com benefícios óbvios para o ex-governador Paulo Maluf declara que a linha dos títulos, ao identifica o caso como o "Imposto da Erundina", obscurece o fato de que o aumento foi aprovado pela Câmara, que se trata de uma lei municipal que o Executivo está cumprido.

Ele reivindica que o jornal mantenha sua linha de equidistância política. E que permaneça coerente com uma atitude que exige que os governantes mostrem de onde virão os recursos para realizar suas promessas eleitorais.

Reconhece que nos artigos assinados há um balanceamento das opiniões contra e a favor do importo, mas não vê o mesmo critério na edição das reportagens e nem a suficiente ponderação dos editoriais. Acha o caso ainda mais grave pela influência enorme que a Folha exerce sobre o conjunto dos veículos de comunicação. Em tempo Lima está longe de ser petista. Eu idem e concordo com tudo o que disse.

ALTA E BAIXA

ALTA para a Folha pela sua enésima reforma gráfica. Os textos do jornal ficaram mais concentrados, cresceram os espaços em branco nas páginas, as capas de cadernos dão uma imagem de maior riqueza, de que o jornal tem mais coisas para se ler. O mesmo espírito, que é na verdade uma resposta a sensação de vazio e pobreza detectada pelos leitores nos últimos meses, parece ser presidido a criação do caderno Mais!. O primeiro número, no domingo passado, pareceu pouco desenvolvido, com títulos obscuros, sem verbo e ação, assuntos que se sobrepunham, ainda sem personalidade.

BAIXA para Mino Carta, por referir-se a mim como "ombudsman mole" em título de artigo recente. O diretor de "IstoÉ Senhor" ainda dessa vez não explicou, porém se o fato de sua revista apoiar o esquema Quércia-Fleury tem alguma relação com a milionária verba publicitária que recebe do Banespa. Trata-se de um "Minocrata".


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