Folha de S. Paulo


Diet Folha

São poucos os que ainda não estranharam a mudança. A Folha está um jornal menor, mais franzino, com uma aparência de problema informática. É cada vez maior a ocorrência de cadernos de quatro páginas, uma folha frente e verso, e nada mais. Cadernos que na verdade não o são, pois constituem-se apenas de uma folha dobrada e imprensa dos dois lados.

Um dos temas que mais irritaram os leitores no mês de janeiro foi esse da diminuição do tamanho do jornal. Os mais indignados afirmam que quando disseram ou renovaram a assinatura pensavam estar se habilitando a receber um jornal com dimensões dadas e bem conhecidas. Afirmam que ninguém lhes avisou da súbita diminuição no tamanho. Alguns chegam a dizer que se consideram vítimas de propaganda enganosa por parte do jornal.

A trajetória editorial da Folha dá suporte à atitude dos leitores. Nos últimos anos o jornal só cresceu, com novas páginas, seções, cadernos, divisões e subdivisões. A coisa parecia não ter fim.

Sempre que mudava, o jornal agregava mais páginas, ou pelo menos dava a impressão de que assim o fazia. Era uma estratégia adequada a quem se propunha a penetrar em cada bolha de mercado, desdobrando-se para oferecer um produto específico para grupos diferentes de leitores, de acordo com o interesse de cada parcela.

Mesmo nos primeiros meses dos anos anteriores, época de poucos anúncios, o jornal conseguia reduzir o número de páginas discretamente, sem denunciar uma imagem de vazio, pobreza, falta de espaço, sem dar a impressão de que reduzia ou que amontoava demais as reportagens para caber no mesmo espaço diminuto.

Não foi o que aconteceu neste janeiro. O caderno Mundo, por exemplo, que há poucos meses esbanjava saúde como um dos estandartes dos cosmopolitismo da Folha, murchou para quatro páginas molengas, as quais pareciam se desfazer à mais leve manipulação. A seção Caixa Alta, os cadernos Letras, Ciência, Comida, por exemplo foram reduzidas à metade. Todas as editorias diárias tiveram cortes igualmente drásticos.

A mim ficou mesmo latente a impressão de que o leitor "lê" também com as mãos, bem como dá mais prestígio ao jornal pelo peso (em gramas) que ele sente, valoriza suas idéias na medida da consistência que o conjunto de páginas demonstra ao manuseio.

Diminuir o número de páginas é complicado em qualquer jornal. Na Folha, a tarefa fica ainda mais complicada pela existência de um número grande de seções fixas, suplementos, subcadernos e subseções, cuja diminuição ou supressão é imediatamente notada. Quando isso acontece, fica-se com a sensação de perda de informação, de quebra do contrato firmado.

Os jornais encolhem porque os anunciantes estão sumindo. Parcela considerável, talvez a maior, dos recursos que sustentam um jornal vem dos anúncios. Normal nessa época, o fenômeno é mais grave esse ano. Ele vem acompanhado da previsão de uma redução ainda mais grave e prolongada dos negócios em geral da economia.

A recessão obriga as empresas a cortar gastos e logo a cortar verba publicitária. Ocorre que os jornais brasileiros se avantajaram numa época em que empresas e governo se beneficiavam de ganhos financeiros artificiais advindos da inflação. Havia menos austeridade, lucro fácil e dinheiro sobrando nas empresas.

O governo, a indústria e o comércio começam a se ajustar. Os jornais terão que se adaptar a um ambiente em que os recursos serão muito mais escassos. Essa abundância, esse gigantismo de jornais, que aparecem entre os maiores do mundo (em número de páginas) apesar de terem uma tiragem baixa em relação à população, está em xeque. Vai prosperar quem usar melhor o espaço, souber o que é prioritário informar e conseguir fazê-lo com qualidade.

ALTA E BAIXA

ALTA para a Folha, por ter conseguido em dezembro a maior média de vendas em bancas aos domingos desde março de 1987: 203 mil exemplares em média (488 mil, se somadas as assinaturas, um resultado inédito). O Folhão pode não ser nenhuma Brastemp em termos jornalísticos, mas preenche as necessidades de leitor interessado em ofertas de emprego e imóveis.

BAIXA para "O Estado de S. Paulo", por ter cedido a liderança das vendas em bancas aos domingos a para a Folha ao registrar no mesmo mês de dezembro sua mais baixa média nos últimos oito anos, 178 mil. Sua venda média nos dias de semana de dezembro também foi a mais baixa do período: pouco mais de 38 mil exemplares. O jornal assiste passivamente o concorrente tornar sua última cidadela: a liderança aos domingos. Em torpedo, o "Estado" parece limitar-se a torcer para que a Folha perca o fôlego.

ALTA para os jornais brasileiros, por terem conseguido até agora manter uma atitude de sobriedade e distanciamento no caso do metralhamento de um avião de garimpeiros brasileiros que cruzou a fronteira com a Venezuela.


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