Folha de S. Paulo


Estupidez de massa

Atenção: não me escrevam mais pelo inbox. Quem quiser contato comigo, faça-o por e-mail, telefone, pomba voadora, mula, correio, seja lá o que for. () A partir de hoje eu caio fora desse Facebook aqui! Saiu das proporções de graça etc. Vejo que é ocupação de quem não trabalha! () Tem uns que narram (berram) (gritam) o quanto está o jogo, como se ninguém soubesse! E lá vai esse ridículo exercício de clicar "like" (ou "curtir"). () Vou manter as páginas abertas por medo de clonagem (já aconteceu três vezes antes quando tentei fechar isso), mas não lerei os comentários e não lerei os recados da inbox. Bom trabalho, seus vagabundos! Curem-se da solidão e realizem-se na vida ()."

Com essa mensagem, o autor e diretor de teatro Gerald Thomas abandonou sua página no Facebook semana passada. Não foi a primeira vez. Alguns vão lembrar que ele também já anunciou o abandono do teatro, mas acabou voltando, como antigos namorados voltam a namorar, restando aos amigos reconstruir os vínculos depois da clássica e traumática divisão entre os "amigos dela" e "os amigos dele". Talvez ele volte ao Facebook. Talvez não. Mas isso não muda o principal: o Facebook promove uma "estupidez de massa", como escreveu Gerald na despedida. Concordei, mas me abstive de clicar o botão Like, já que ele não ia ver mesmo.

Sei que vou receber mensagens de contestação, elogiando o Facebook e mencionando fatos bacanas, a diversão, a proximidade com os amigos, tralalá. Eu também poderia mencionar amigos de infância que reapareceram, amigos distantes que parecem próximos, coisas engraçadas ou, com sorte, informações relevantes. Nada disso é capaz de ocultar o tsunami de bobagens, idiossincrasias e "vergonha alheia" que o Facebook patrocina.

Ninguém pode querer ver de tão perto tanta gente o tempo todo. Ou será que alguém neste Brasil tão sociável é capaz de manter baixinho o número de conexões? Eu não sou, apesar da indecente pilha de "pedidos de amizade" sem leitura nem solução. Primeiro eu tinha critérios: pessoa jurídica não aceito como amigo; só aceito quem conheço, quem publica foto ou é amigo de amigos etc. Nenhuma regra deu certo. Não me peçam coerência. Agora é ao acaso. Vi, vi. Não vi, não vi.

Enjoei de tanta gente fotografada para consumo externo, tanto VIP, tanto lugar paradisíaco, tanta lua cheia, tanta opinião a respeito de tudo, tantos animais de estimação, tantos aniversariantes, tantas crianças, tantas mensagens edificantes, tantas piadas, tanto leva-e-traz, tanto proselitismo, tanta má-criação.

Só há uma maneira de lidar com o Facebook, é a esmo. Então que ninguém fique magoadinho se deixei de ver o seu status, evento ou aniversário. Fracassei. Desisti.

Mas diferentemente do Gerald, parece que agora vou ler as mensagens que chegam no inbox, se forem poucos os que me escreverem e não vierem mensagens de grupo ou propaganda. E sabe o que fiz hoje? Instalei o Messenger do Facebook no celular. Meu jovem assistente, o André, recomendou. Seria um bom jeito de receber mensagens privadas de amigos do Facebook sem entrar no Facebook. Isso além de SMS, e-mail, celular, WhatsApp, Skype, Instagram... Será que faz algum sentido isso tudo?


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