Folha de S. Paulo


O troca-troca de técnicos no futebol brasileiro é assustador

Divulgação/Paulo Pinto/saopaulofc.net
Rogério Ceni orienta jogadores do São Paulo contra o Fluminense
Rogério Ceni orienta jogadores do São Paulo contra o Fluminense

Em 2016, o único treinador a sobreviver no mesmo time durante o ano inteiro foi Dorival Júnior. Como se sabe, no começo de julho de 2017 ele aceitou a missão de tirar o São Paulo da zona de rebaixamento do Brasileiro, depois de uma gestão de apenas seis meses de Rogério Ceni.

Por aqui, a média de permanência de um técnico é de cinco meses, uma das menores do futebol mundial. Os dados são da revista "The Economist", que fez um levantamento quando o Manchester United trocou o técnico Van Gaal por José Mourinho depois de duas temporadas à frente do time. A conclusão foi de que na Inglaterra a média de permanência de um técnico é de 11 meses, considerada chocante pela publicação.

No futebol alemão, a média é de um ano e dois meses, enquanto os times espanhóis costumam manter seus treinadores por um ano. Olhando para esse panorama é assustador que o troca-troca por aqui aconteça em tão pouco tempo.

O globoesporte.com fez outro levantamento revelador. Entre a pré-temporada e os três primeiros meses de 2017, 112 técnicos de clubes que jogam a primeira divisão de seus Estados tinham deixado o cargo. A maioria foi demitida, mais da metade de clubes nordestinos. No topo do ranking vem a Paraíba com 12 profissionais substituídos, média de um técnico descartada a cada rodada do Campeonato Paraibano.

O que se faz nesse curto espaço de tempo? Muito pouco. Assim que assume, o técnico começa a ser cobrado por resultados e quando eles não aparecem é rua na certa. Os times não têm fôlego para bancar suas apostas a longo prazo. Os profissionais precisam se adaptar rapidamente às mudanças que acontecem no clube. Tome o caso de Zé Ricardo, que acabou sendo demitido do Flamengo pela pressão que vinha sofrendo pelo investimento feito em novos jogadores.

Robson Ventura/Folhapress
Dorival Junior trocou o Santos pelo São Paulo neste ano
Dorival Junior trocou o Santos pelo São Paulo neste ano

Na seleção a história é um pouco diferente. Tite completou um ano no comando do time. A diferença é que existe um projeto chamado Copa do Mundo e a CBF tem bala na agulha para bancar o técnico que quiser. Sem falar que tudo tem dado certo até agora. O Brasil ganha e o treinador segue em lua de mel com a torcida.

Em outros esportes a história dos técnicos com clubes que comandam é muito mais longa. No vôlei, por exemplo, temos Bernardinho, que treinou o time masculino durante 16 anos. E Zé Roberto Guimarães como técnico da equipe feminina desde 2003.

A NFL, cada vez mais popular entre os brasileiros, também tem técnicos que dedicaram parte da vida a apenas um clube. O primeiro do ranking é justamente o atual campeão, Bill Belichick, no New England Patriots desde 2000. Ele levou o quinto título neste ano no comando do clube e foi apontado como a figura central nas mudanças que levaram o time a virar um jogo dado como perdido e vencer uma das finais mais emocionantes da história do campeonato.

É curioso acompanhar o que acontece com os técnicos no Brasil. Mudamos com rapidez o que não funciona, a esperança é renovada por um tempo e assim que nossas expectativas não se concretizam, descartamos o profissional. Não consigo pensar em nada mais estressante do que a cada semana saber que seu emprego depende de tanta coisa, mas a cobrança recai apenas em cima de você. Muito difícil um projeto que seja sólido e duradouro quando é interrompido o tempo todo.


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