Folha de S. Paulo


Limpar o Brasil passa pelo esporte

Ricardo Moraes/Reuters
Brazilian Olympic Committee (COB) President Carlos Arthur Nuzman (C) arrives to Federal Police headquarters in Rio de Janeiro, Brazil September 5, 2017. REUTERS/Ricardo Moraes
Carlos Arthur Nuzman chega à sede da Polícia Federal no Rio para depor nesta terça-feira (5)

Há dias em que o Brasil amanhece unido. Foi assim nesta sexta-feira (8), quando prenderam Geddel Vieira Lima, o homem dos R$ 51 milhões. E também no início da semana quando o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, foi levado para depor e teve sua casa vasculhada pela Polícia Federal.

Ainda que o país esteja cada vez mais dividido politicamente, eles integram a lista de políticos, empresários e cartolas que dificilmente teriam apoio popular caso tivessem de sair de circulação por vias jurídicas. Eduardo Cunha, cada vez mais esquecido, é dessas unanimidades.

Ouvi fogos de artifício quando Sérgio Cabral foi preso. Posso apostar que Marco Polo Del Nero é outro com a capacidade de unir coxinhas e petralhas. Todo mundo quer vê-lo longe da CBF, na companhia de Cabral.

Mas, enquanto nos distraímos com os episódios policiais que envolvem a nata azeda da nossa política, dirigentes esportivos continuam serelepes por aqui.

Operação Unfair Play
Polícia Federal investiga compra de votos para escolha do Rio como sede olímpica

Pegue o caso de Del Nero. Para a Justiça americana ele é bandido. O que falta para ser considerado tal qual por aqui? O que nos falta? Provas ou colhões. Se em algum momento a Justiça brasileira resolver olhar esse assunto de perto e tomar as providências necessárias, não duvido que a comoção nas redes sociais seja muito maior do que se o Brasil for hexa.

Estamos cansados de coronéis que mandam na política e no esporte desde sempre. E que apesar de indícios e denúncias nada lhes acontece.

Mas vamos falar do caso mais recente de "agora vai, mas não foi ainda". Durante a Olimpíada já era dado como certo que Nuzman conseguiria se reeleger para o COB para mais um mandato até 2020, quando completaria 25 anos à frente da entidade. Vinte e cinco anos. Ele não confirmava sua candidatura, mas disse em entrevista que a maioria queria que ele continuasse e que ele devia terminar uma série de ações, relatórios e prestações de conta.

Como sabemos, ele continua à frente do COB, mas nem tão firme nem tão forte. Imagino que as prestações de conta às quais se referia não envolviam a Justiça.

Fizemos uma Copa e uma Olimpíada que foram sucesso, mas a que custo? E não falo apenas dos bilhões desviados, mas da imagem que ficará quando todos as denúncias forem feitas e esclarecidas. Sim, sou otimista de que aconteça.

O plano de se mostrar ao mundo como país moderno e maduro acabou eclipsado por todos os escândalos que não param de aparecer.

Seis dos 12 estádios da Copa estão sob investigação. O Tribunal de Contas do Estado do Rio diz que quase R$ 2,5 bilhões foram desviados na construção da Linha 4 do Metrô, que não está pronta. O ex-prefeito do Rio

Eduardo Paes foi acusado de receber R$ 15 milhões para facilita contratos do evento.

Em março vieram as primeiras denúncias de que o Brasil pagou por votos para levar o direito de sediar a Olimpíada. Nuzman posou de dono da festa na cerimônia de abertura dos Jogos ao dizer que se sentia o homem mais orgulhoso do mundo. Não era ele o anfitrião, mas todo povo brasileiro. E agora, apesar de ser ele o implicado, lá fora é a imagem do país inteiro que fica arruinada. Ninguém dirá que o presidente do COB fez isso ou aquilo, mas que o Brasil comprou a Olimpíada.

Precisamos com urgência nos livrar de toda essa gente.


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