Folha de S. Paulo


Esporte de alto rendimento ainda terá de se adaptar a sociedade inclusiva

Edgar Su/Reuters
A tenista americana Serena Williams,35, comemora durante final do Australian Open neste sábado (28)
A tenista americana Serena Williams,35, comemora sua vitória na final do Australian Open de 2017

Na mesma semana em que uma das melhores tenistas da história, Serena Williams, é retratada grávida, nua e resplandecente na capa da revista Vanity Fair, o ex-jogador John McEnroe dá-lhe uma "xoxada" ao dizer que ela seria apenas número 700 do mundo se jogasse contra os homens.

Pausa para revirar os olhos.

Não contente com a saia-justa, poucos dias depois, McEnroe voltou a polemizar. Afirmou que várias pessoas já ofereceram dinheiro para que ele entrasse em quadra contra Serena ou Vênus, a outra irmã Williams. Inclusive Donald Trump.

Quem precisa provar mais alguma coisa depois de vencer o Aberto da Austrália, com oito semanas de gravidez, aos 35, condições em que a maioria já estaria aposentada, e ainda ser a número quatro no mundo?
Tudo soa como provocação num momento em que Serena está afastada das quadras pelo simples motivo de que vai parir e não precisa de ninguém para criar polêmica. Por que McEnroe não desafia Federer ou Nadal com a mesma proposta?

A imprensa estrangeira entende que ele viu em Serena a possibilidade de reviver um momento esportivo histórico. O ex-tenista Bobby Riggs, um fanfarrão nos seus 55 anos, desafiou e venceu Margareth Court, uma das melhores do mundo. A revanche aconteceu contra Billie Jean King, num evento assistido por cerca de 90 milhões de pessoas, que rendeu documentário e o filme Batalha dos Sexos, com estreia prevista para setembro, nos EUA.

Vencer Serena, a melhor tenista da história, segundo o próprio McEnroe, seria um feito e tanto para um tiozinho de 58 anos. Ainda que para isso as diferenças genéticas fossem ignoradas.

Não é à toa que homens e mulheres competem em categorias separadas na grande maioria dos esportes. Há diferenças fisiológias que garantem ao homem rendimento maior em esportes que exigem capacidade mais aeróbica, cardíaca e muscular, enquanto as mulheres se sobressaem nas atividades em que a flexibilidade faz a diferença.

Não significa que um seja melhor do que o outro, mas que são geneticamente mais aptos para esse ou aquele esporte. É natural que disputem com quem tem as mesmas condições físicas.

Um dos únicos considerados realmente igualitários é o hipismo, que tem os controles do cavalo ou da égua regulados, de forma que a força do cavaleiro ou da amazona seja a mesma e não interfira de forma desigual no desempenho.

Se não houvesse diferenças o Comitê Olímpico Internacional não teria regras para que atletas trans e intersexuais pudessem participar dos Jogos. Bastaria que escolhessem o gênero com o qual se identificam, mas obviamente não é tão simples. As exigências diminuíram no ano passado, como a cirurgia de mudança de sexo, não mais necessária, mas as terapias hormonais devem respeitar as normas da entidade.

Como o esporte vai lidar no futuro para se adaptar a uma nova sociedade mais inclusiva? É difícil imaginar. Mas é cedo para afirmar que mulheres e homens tão cedo poderão competir uns contra os outros ou em equipes mistas de forma igualitária, mesmo que já haja exceções.

O que certamente pode-se afirmar é que o mundo não precisa de mais um marmanjo querendo mostrar que ainda dá caldo às custas de mulher. Muito menos de uma que está prestes a parir.


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