Folha de S. Paulo


Jovem gosta de sexo, adulto gosta mesmo é de boleto em dia

Sebra/Fotolia
Já diz um meme
Já diz um meme "quem gosta de transar é jovem, adulto gosta mesmo pagar a 12ª parcela da compra"

Já diz um meme que circula na internet: "quem gosta de transar é jovem, adulto gosta mesmo é de sentir o alívio de pagar a 12ª parcela da compra no cartão de crédito".

Depois de três semanas de viagem, quando o marido chegou em casa, fiquei feliz, claro, como se fosse dar o primeiro beijo no quintal da escola na fase tenra da adolescência, mas o que eu gostei mesmo foi o momento de abrir as malas e tirar de lá as minhas encomendas. Gin inglês? Cremes carésimos? Itens da promoção do inverno americano? Gadgets?

Nada disso. Estava obcecada por toalhas de banho gigantes e fofinhas e lençóis de 500 fios, que não amassam. Não bastasse o inusitado da muamba, passei cinco minutos dando detalhes sobre as maravilhas dos produtos, enquanto recebia um olhar incrédulo. O bofe me olhava, como quem pensa: de onde saiu essa vendedora da Polishop?

Virei adulta, fato. Não que eu não gostasse de toalhas macias quando era mais jovem, mas não tinha dinheiro para esse tipo de extravagância e o orçamento sempre foi comprometido com os setores do vestuário, das passagens de avião, das baladas e das promoções de cerveja e de garrafas de vinho.

Não vão tão longe os dias em que minha geladeira sobrevivia à base de iogurte, água com gás e cerveja gelada. Quando fico sozinha em casa, revivo com louvor essa fase rebelde da juventude.

Ninguém pode negar que eu era uma baita anfitriã, mas talvez os banhos não fossem tão confortáveis e a cama tão macia. O setor de reclamações sempre operou dentro do padrão. Nunca recebi um fora porque a toalha de banho não era boa.

Agora, quando leio os memes, me identifico com o lado adulto. Segundo eles, sexo é a coisa mais superestimada da nossa juventude. Há uma lista de outras coisas muito mais interessantes e prazerosas do que transar. Ainda que não concorde 100% com a afirmação, me vejo em situações que sinto satisfação parecida à proporcionada por orgasmos múltiplos.

Você pode ter certeza de que virou adulto quando acha mais divertido passar uma tarde de sábado na Leroy Merlin, e não no sambinha com feijoada, do bloco lacrador do Carnaval. E a alegria de pagar os boletos em dia e achar todas as tampas dos potes de Tupperware?

Lembro do término de um namoro, quando o ex teve a capacidade de pegar o elevador de volta, após uma briga, e me pedir a travessa da lasanha emprestada. Três dias rindo e difamando o moço, mas hoje entendo que ele era só adulto, coitado.

Jovem também gosta de mandar nudes. Se você ainda capricha nos retratos em que sensualiza pelado, pode se considerar garotão. Eu fico feliz só de conseguir responder todos os e-mails que, todo mundo sabe, é coisa de gente velha.

Viajar era sinônimo de um quarto em uma pousada na Bahia, dividido com três amigas e um ventilador no teto. Agora, se não tiver ar-condicionado, wifi e TV com 57 polegadas, nem vou. Mentira. Mas é quase por aí.

A fobia que sinto quando me convidam para uma festa com o DJ mais incrível do verão Europeu só se compara ao pânico que tomava conta de mim até uns anos atrás de perder inauguração de farmácia. Agora eu olho para o convite e penso que seria legal, mas prefiro me drogar com Stilnox e acordar sóbria.

Às vezes, ainda baixa por aqui um espírito adolescente e tento reviver os dias gloriosos de beber, dormir pouco e trabalhar no dia seguinte. Tudo o que consigo é ficar doente durante três dias e sentir dores no corpo piores do que as causadas pelo Chikungunya.

Mas o que resume melhor a transição de todas essas fases é o meme que diz o seguinte: a gente passa a infância querendo ser adolescente, a adolescência querendo ser adulto e a vida adulta querendo ser um gato.

Já vislumbro a fase gato. Olho para os dois bichanos esparramados pelo chão de casa. É um tal de brincar, comer, dormir, tomar sol, fazer cocô e sensualizar. Que vidão.


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