Às vezes eu me sinto como naquele filme "Feitiço do Tempo", em que o repórter, interpretado por Bill Murray, vai cobrir o Dia da Marmota, fica preso no tempo e todos os dias quando acorda os acontecimentos se repetem. A expressão acabou famosa e muita gente apela a ela quando se refere a um fato que acontece novamente de forma irritante.
É como eu me sinto quando falo de Olimpíada após meses em que o evento foi encerrado. Respiramos aliviados porque ela foi elogiada por visitantes e atletas, apesar dos inúmeros problemas. O Rio, sem sombra de dúvida, viveu algumas das semanas mais festivas e gloriosas de sua história. Mas sempre soubemos que a conta chegaria.
O problema é que ela não para de chegar. Cá estou falando novamente dos problemas dos Jogos, tal qual fazia antes e também durante. Oito meses após o fim da Paraolimpíada, o Comitê Rio-2016 ainda tem dívida de R$ 132 milhões, mas os fiadores da festa, leia-se, governos federal, estadual e municipal, dizem que nada mais têm a ver com isso.
É claro que têm. Mas a hora nunca foi tão ruim para que os cobradores batam à porta de um país em crise e de um Estado quebrado, ainda mais agora que a festa acabou. "Pessoal, voltem outra hora, quem sabe em dois mil e nunca."
O ex-prefeito Eduardo Paes repetiu inúmeras vezes que deixava a prefeitura com caixa positivo, informação não confirmada por Marcelo Crivella, que reclama ter menos recursos e mais dívidas a pagar.
As dívidas do comitê são de toda ordem, de fornecedores, reparos nas arenas, que sabemos bem estão abandonadas, a reembolso de torcedores. Veja, há cerca de 130 mil pessoas tentando receber R$ 3 milhões em ingressos devolvidos. Resolver essa pendência com o público deveria ser prioridade.
Um montante de R$ 22 milhões é de dívida trabalhista. Nem quem trabalhou recebeu direito? Mas, espera lá. Não sei você, mas fiquei chocada com a informação de que o Brasil é responsável por 98% de todas as ações trabalhistas do mundo. Gostaria de saber se não há algum abuso nesses processos.
Em Londres-2012 houve denúncias de que o sucesso da Olimpíada se deveu à dedicação de muitos imigrantes ilegais, que trabalharam sob condições injustas de trabalho. Até o momento não se sabe em que ponto a Rio-2016 deixou tanta gente insatisfeita a ponto de ir à Justiça.
O que sabemos é que essa novela está longe de acabar. Posso apostar que o Japão fará 2020, entregará a contabilidade zerada e ainda estaremos vivendo indefinidamente nosso Dia da Marmota.
SANGRA, CBF
A Casa Bandida do Futebol Brasileiro, mais conhecida como CBF, acaba de perder o seu sexto patrocinador. A coluna vem registrando esta sangria desde que os escândalos que envolvem a entidade e seus dirigentes foram revelados.
Aos poucos, quero acreditar, as empresas se dão conta de que o brasileiro está farto de tudo ligado à corrupção. Rola nas redes sociais, por exemplo, uma campanha para que os produtos produzidos pela holding JBS sejam boicotados.
No caso CBF, foi a vez de a Chevrolet não renovar, o que deixou o Brasileiro de 2017 sem nome. Gillette, Unimed, Sadia, Michelin e Samsung haviam abandonado o barco.
Só digo uma coisa: bem feito. Sangra mais, CBF.