Folha de S. Paulo


Como descobrir se você passa vergonha nas redes sociais

Há seis anos postei no Facebook uma foto minha na balada, de uma época em que eu chegava em casa depois da Folha. Sei disso porque todos os dias o aplicativo me lembra de posts passados, de seis, sete, oito anos atrás, quando passei a ser mais assídua. Fotos, frases, links de música ou de notícia. Se postei, o Facebook me lembrará. O Timehope já fazia isso, mas o senhor Zuckemberg, malandramente, passou a oferecer o mesmo recurso de olho em usuários saudosos de momentos memoráveis.

Aquela lembrança me fez sorrir ao pensar em como era minha vida há seis anos. Eu tinha uma agenda social intensa, amava meu trabalho, tinha uns casinhos que não davam em nada, mas me divertiam muito, vestia 38, tinha os cabelos escuros, ganhava pouco, passava os finais de semana no Rio, corria meia maratonas. Era feliz e sabia, mas não tão claramente quanto vejo agora. A gente nunca acha que é tão realizada. A gente sempre quer ser mais magra, mais rica, mais amada, ganhar mais, trabalhar menos, ter o cabelo mais loiro.

Todos os dias de manhã, faço essa viagem no tempo. É minha sessão de psicanálise diária, a chance de fazer uma bela autocrítica, ter saudade, morrer de rir, lembrar de coisas que viveu, falou, fotografou e registrou lá para todo mundo ver e para ficar eternizado. Sem falar que é um ótimo método para a gente descobrir se passa vergonha nas redes sociais.

Já postei duzentas vezes "foca na sexta", com a foto de uma foca. "É preciso amar as pessoas como se fosse sexta-feira". Essa veio quando a gente começou a se odiar. E "abrindo os trabalhos", com um copo de chopp? E indireta pra "zinimiga"? "Tem gente que é ventilador e se acha ar-condicionado." A gente faz isso. Até hoje.

Dei de cara com várias fotos e posts da fase "se beber, não poste", no meu histórico. Em geral, muito louca, muito feliz, muito gostosa, com uma legenda incompreensível, só para mostrar para o peguete "olha só o que você está perdendo". Claro que só funcionava para dar uma ressaca moral fédadaputa.

Tem coisas ainda piores. Lá dos primórdios do Facebook, quando a gente não sabia direito como aquilo funcionava, era um festival de coisas nonsense. O aplicativo perguntava: o que você está pensando? E a gente respondia! "Me arrumando para ir pro trabalho", "com sono", "com fome", "com dor de barriga", "com raiva da dona Maria", "esperando a faxineira", "comprando comida para o dog". Who cares?

Então, chegamos às doces lembranças e aquelas que nem sempre queremos lembrar. Tem quem diga que as vidas nas redes sociais não são de verdade, que todo mundo está sempre feliz. Eu vejo de outra forma, fazemos ali uma edição dos nossos melhores momentos e de outros não tão bons.

Nesse balaio de gatos temos histórias de perdas, de mortes, de demissão, de frustrações. Mas também de vitórias, de alegrias, de momentos engraçados, de fases fabulosas, de pessoas inesquecíveis, de fatos que mudaram nossas vidas.

Ontem, o Facebook me lembrou que faz sete anos que me separei, e não foi nada bom. Estava tão amargurada e sem inspiração que escrevi: "não namore um cara que dá mais trabalho do que o seu cabelo". Eu sei, é horrível, mas só fui capaz disso naquele momento, e olhando para a minha vida hoje, vejo que aprendi a lição.

Justin Sullivan/Getty Images/AFP
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