Folha de S. Paulo


Fazia tempo que o Rio não parecia tão seguro como agora

O efeito Exército na rua já mostrou sua eficiência. Fazia tempo que o Rio não parecia tão seguro como nos últimos dias, e a sensação deve permanecer até o final da Olimpíada, pelo menos nas áreas de competição e nos bairros mais turísticos. Tirando um arrastão aqui, outro acolá.

Naturalmente, a medida provoca sentimentos antagônicos. Ao dar de cara com soldados vestidos para batalha, armados até o nariz, a primeira reação é atravessar a rua e se esconder, mas logo você lembra que é isso ou trombadinha tocando o terror.

É verdade, tudo contrasta demais com a pouca roupa e descontração dos frequentadores. Parece um reboco torto numa paisagem idílica. Por muito pouco não abracei os moços em gratidão e pedi uma selfie. Nem todo mundo conteve a emoção. Posso apostar que, em três semanas, soldados estarão em mais fotos com turistas do que os atletas.

Por conta dessa lufada de paz, o Rio respira um ar menos carregado. Começa a ganhar cor e animação, com a chegada das delegações e dos turistas. A alegre sonoridade da mistura de línguas já preenche os calçadões, restaurantes e pontos turísticos.

Muita gente devolveu os ingressos e cancelou a vinda por medo da zika, mas a maioria o fez pela falta de segurança, depois que o governo do Rio assumiu falta de dinheiro até para a gasolina de viaturas e para salários dos policiais. Pois bem, não há melhor momento para vir à cidade do que agora, enquanto estamos sob esse manto de proteção.

Animada pela temperatura amena e pela tomada da cidade por 21 mil mocinhos, 3.000 a mais do que a previsão inicial, resolvi testar de bicicleta o novo acesso que vai do aeroporto Santos Dumont à praça 15, uma região dominada pela Perimetral, o viaduto mostrengo, implodido em 2014.

Adiante da praça 15 ainda há obras que dão acesso ao novo Boulevard Olímpico, até o Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio e a Zona Portuária, onde acabou de ser inaugurado o painel Etnias, do artista Eduardo Kobra.

O mural de 3.000 m² mostra cinco rostos que representam tribos de cada continente, fazendo referência aos aros olímpicos. É visita obrigatória numa próxima vinda ao Rio e onde haverá programação intensa, com a transmissão de competições e shows.

O trajeto, desde a praia do Leblon, passando por toda a orla da zona sul, túnel Novo e aterro do Flamengo, aeroporto Santos Dumont é deslumbrante –e plano, mas tem inúmeros trechos sempre evitados por causa de assaltos.

É triste dizer isso, mas aproveite enquanto pode, até que o Exército não esteja mais entre nós. Depois disso, eu não faria esse passeio –e vários outros– novamente. Ponto para a Olimpíada.


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