Folha de S. Paulo


Falta de sexo tem cura

Não é a escassez de sexo que acaba com um relacionamento, ainda que isso não seja exatamente um bom sinal. O que acaba com o sexo e, consequentemente, com o relacionamento é a falta de intimidade. Esse parece ser o mal dos casamentos, dos longos namoros, do tico-tico no fubá que não ata e não desata, e não a rotina, os filhos, o Netflix, as contas para pagar.

Apenas 40% dos casais em relacionamentos longos têm uma vida sexual ativa. Piora. Cerca de 20% transam menos de dez vezes ao ano, e esse número pode ser ainda pior porque muita gente mente em pesquisas e para terapeutas sexuais. A gente nunca admite que é pior do que gostaria. Muitos casais passaram a viver como colegas de quarto. E sem benefício nenhum, a não ser a divisão de contas, e o ônus da promessa de fidelidade.

Não adianta lingerie nova, luz de velas, jantar romântico com Romanée-Conti 1934, nem sexo com hora marcada, em cima da máquina de lavar ou na escadaria de incêndio. Essas coisas podem servir como paliativo para que vocês transem uma vez por mês, mas não vão resolver o tesão do dia a dia nem trazer o que realmente importa que é intimidade.

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Intimidade é procurar a mão do outro. Ligar no meio do dia para contar novidade. Ligar só para dizer oi. Tomar banho de chuveiro juntos. Deitar abraçado e conversar no escuro. Deitar abraçado e conversar no escuro, todas as noites. Cortar cebola enquanto o outro faz a salada. Dançar na cozinha. Compartilhar silêncios confortáveis. Ser o melhor amigo um do outro. Gostar das mesmas pessoas. Falar mal de outras mesmas. Sentir admiração. Entender-se pelo olhar. Sentir saudade, falta, necessidade. Voltar para cama para um abraço. Saber conjugar o verbo chamegar de trás para a frente.

Nem precisa viver sob o mesmo teto para ver a vida sexual mandar lembrança de longe. A receita é quase a mesma: no começo do relacionamento a gente beija e faz sexo o tempo inteiro. Nem de água e sono precisamos. Um dia para de beijar e só beija quando transa e transa cada vez menos e beija menos ainda. Que bosta, hein?

Beijo não é preliminar. Beijo é beijo. Beijo tem vida própria. Beijo é protagonista, não é coadjuvante. Um beijo bem dado é meio caminho andado, mas só meio. Beijo é a coisa mais gostosa da intimidade. Beijo mantém os laços apertados. Beijo de língua. Beijo com saliva. Beijo com comichão. Se vocês não se beijam com frequência, esses laços ficam frouxos, sua relação morna e o sexo... que sexo?

Pode economizar no hotel fazenda e no vinho. Ter intimidade é mais difícil do que ficar com tesão. Depois de muito tempo de relação o tesão só dá o ar da graça com aquela pessoa de sempre com intimidade e comprometimento. Não tem nada mais gostoso do que sentir tesão por quem a gente ama e transar sem ter que usar a máscara do Zorro para ser divertido.


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