Folha de S. Paulo


Se for às compras, deixe o macho em casa

Nunca leve, carregue, convide um homem para fazer compras com você. Mesmo que ele insista. O mundo já está cheio de moços cansados, irritados, entediados, emburrados, esfomeados, esperando uma mulher experimentar 18 tipos de calças jeans –e sair sem comprar uma.

Toda vez que estou em uma loja e avisto um exemplar da espécie, tenho vontade de chegar perto, pegar sua mão e dizer que tudo vai ficar bem, que logo aquele tormento chegará ao fim. Tenho pena. Esperar uma mulher escolher entre um salto anabela e um meia pata deve ser tão divertido quanto acompanhar o bofe numa convenção de quadrinhos.

Mulheres são seres fascinantes e esquisitos que conseguem passar três horas dentro de uma loja de calcinhas. Experimentam duzentos tipos. Uma aperta a barriga, outra espreme o quadril como uma mortadela amarrada no barbante. Essa entra muito na bunda. Não gosto da cor. Detesto renda. Preciso de uma calcinha bege também. Leva uma vermelha, dá no mesmo. Vestiu super bem. Nossa, como estou com celulite. Não vou levar.

Qualquer coisa que um homem demore cinco minutos para escolher, uma mulher pode levar 45 minutos. É assim em frente a uma prateleira de xampu, em uma loja de copos, de bijuterias, de Havaianas, de roupas de cama. Não é simples escolher entre 800 e 1500 fios egípcios. Se for liquidação, do que quer que seja, pode esperar até o Natal. Não há nada de errado. Só não entendo por que algumas insistem em levar testemunha.

Sinto profunda piedade quando um homem com olhar perdido vaga pelos corredores de uma loja de sapato ou se perde entre camisolas e biquínis de uma loja de departamento. Quando percebo um grupinho de machos num cantinho da loja, esperando suas respectivas, sempre imagino que vai aparecer alguém e oferecer um potinho de água, para que eles se sintam mais confortáveis. Não fazem isso com os pets na porta do supermercado? Acho justo.

Se for às compras, deixe o macho em casa, no parque com as crianças, no bar com os amigos, no curso de origami. Ele será apenas uma companhia inútil. Não adianta mantê-lo na coleira, na esperança de que ele a ajude a decidir se o top cropped ficou bom. Mesmo que você apenas pareça mais ou menos peituda, mais ou menos baixinha, ele dirá que está linda. Tudo que ele quer é que você saia do maldito provador e que vocês possam ir embora para que ele consiga respirar longe daquele cheiro de bom ar metido à besta que todas as lojas passaram a ter.

Carregar um homem para um shopping, loja de departamento ou liquidação só serve em duas situações. Para segurar a sua bolsa, o que eu chamo de homem-cabide. Tem também o homem-carteira, que dispensa comentários. E se tem uma coisa que não tem preço é poder ficar duas horas dentro de uma loja sem alguém esperando e poder pagar as próprias contas.


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