Folha de S. Paulo


Welcome to Rio

Vai ser prato cheio contar lá fora que o Rio, em estado de calamidade pública, dá festa para bilhões de pessoas.

Em 5 de julho, as instalações do centro de imprensa da Rio-2016 serão abertas para receber os cerca de 30 mil jornalistas que devem passar pelo local durante a Olimpíada. É a partir dessa data que os seis anos que o Brasil teve para se preparar para o evento serão avaliados pelos profissionais que farão a cobertura.

Isso significa mais do que estar com arenas prontas para receber os atletas. Será preciso muito mais que caipirinha, pôr do sol no Arpoador e samba na Lapa para suavizar as críticas que a cidade e o país irão receber.

Os gringos terão um mês até que os Jogos comecem e as atenções sejam desviadas para as arenas, para reclamar até do que não deveriam. Nem precisa de muita má vontade. O que não falta é motivo.

A questão do vírus da zika ainda ocupa as manchetes internacionais, como o maior desafio a ser enfrentado. No entanto, terça (14), a OMS (Organização Mundial da Saúde) informou que o risco de propagação do vírus em agosto é "muito baixo". Manteve a recomendação de que grávidas não venham aos Jogos e que as pessoas façam sexo seguro.

A OMS segue o raciocínio do professor Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da USP. Na semana passada, o Núcleo de Divulgação Científica da universidade divulgou vídeo em que Massad apresenta cálculos sobre a probabilidade de ser picado durante a Olimpíada. Segundo ele, haverá cerca de 15 casos da doença e apenas três desenvolverão os sintomas.

Para mostrar como as chances são pequenas, o professor faz uma comparação bastante incômoda. Segundo ele, o risco de uma mulher ser infectada durante a Olimpíada é 1/15 do que o de ser estuprada. Para os homens, o risco é menor do que ser morto com um tiro.

A zika será esquecida à medida em que os jornalistas perceberem que os problemas aqui não são apenas de saúde pública. O governador em exercício, Francisco Dornelles, já pediu socorro ao governo federal, algo em torno de R$ 3 bilhões. Uma parte para terminar as obras da linha 4 do metrô. Outra pagará o funcionalismo público para evitar manifestações durante os Jogos. Mesmo assim, duvido que elas não aconteçam. Vai ser um prato cheio contar lá fora que o Rio está quebrado, agora oficialmente em estado de calamidade pública, mas está dando uma festa para bilhões de pessoas.

A prefeitura pode se vangloriar em sua propaganda de que "até os japoneses" têm o mesmo tipo de transporte. Apenas esqueceram de contar que o sistema é usado em pouquíssimas cidades japonesas. O transporte em Tóquio, por exemplo, é feito majoritariamente por metrô e trem. Há o plano de uma linha de BRT para a Olimpíada de 2020, mas apenas como complemento.

Os gringos vão perceber o que já sabemos: estamos longe de ter o transporte adequado para uma cidade desse porte, com ou sem Jogos Olímpicos. Com ou sem linha 4 do metrô.

Falei de estupro coletivo, assaltos, furtos, malandro querendo se dar bem em cima de gringo otário?

E, como má notícia pouca é bobagem, além da guerra civil nas favelas da cidade, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) confirmou a existência de um grupo chamado Nashir Português, que seria ligado ao Estado Islâmico e que vem trocando mensagens pelo aplicativo Telegram. Receita de bolo é que não é.

Alguém vai lembrar da zika?


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