Folha de S. Paulo


O Brasil fora da Copa

Adoro Copa do Mundo, que fique claro, antes que alguém diga que não gosto de futebol e por isso torço contra. As pessoas andam tão loucas que prefiro me justificar antes de lançar os argumentos do por que seria bom para o futebol brasileiro que a seleção fizesse um sabático forçado.

E não tenho a menor dúvida que seria, se o esporte continuar nas mãos de uma cleptocracia que vem se perpetuado no comando do esporte mais popular do país, Copa após Copa.

Pior, distorcendo a máxima dos delinquentes de que "rouba mas faz". Nem isso. Além de bandidos (um preso, outros indiciados, fora os investigados) são incompetentes.

Imagino que a maioria das pessoas concorde que essa seleção aí não dá. Não nos dá alegrias, orgulho, prazer. Não nos sentimos representados. Reina um clima de tanto faz. No jogo em que o Brasil empatou com o Uruguai, em Recife, havia meia dúzia de torcedores na porta do hotel onde a seleção ficou hospedada. Que decadência. Pareciam fãs de banda de sucesso que caiu no ostracismo.

Triste ver como a seleção conseguiu se descolar do posto de paixão nacional nos últimos anos, resultado de um futebol mequetrefe, de falta de identificação da torcida com os jogadores e da camisa da CBF ter afundado no lamaçal fundo e fedorento da corrupção –motivo para desqualificar manifestação.

A torcida protesta, a imprensa denuncia, assinamos manifestos pedindo a renúncia da velha rataria que dirige a entidade, a internet clama pelo "impeachment" de Dunga, mas continua tudo como está.

Imagino que uma grande tragédia seja necessária para que o futebol brasileiro sofra o "reset" de que tanto necessita. Se não o povo, que se importa cada vez menos com os rumos da seleção, essa tragédia atingiria em cheio a própria CBF, seus patrocinadores e parceiros que sentiriam no bolso a ausência do time no maior evento do futebol.

Estamos mal acostumados. Somos o único país a participar de todas as Copas. Somos os maiores campeões, temos jogadores entre os melhores da história. Pelé ainda é idolatrado como o maior jogador de todos os tempos.

Mas tudo isso é passado. A realidade hoje é um patético sexto lugar nas eliminatórias da Copa. Parece que nunca mais acordaremos do 7 a 1. Nem é inédito, já vivemos isso em 1994, quando passamos pelo mesmo sufoco e ficamos fora da zona de classificação depois da terceira rodada. O resto é história.

Fora dos campos, o momento é dos piores, diferente de certa euforia que havia em 1994. Dias mais turbulentos e um futuro incerto têm jogado para escanteio o interesse do brasileiro por essa seleção. O apoio ao time só virá em massa se a CBF passar pela limpeza necessária. Ficar fora da Copa talvez seja o empurrãozinho que falte para que aconteça alguma coisa.

E precisa acontecer. A CBF tem uma dívida com o país. Apesar de ser uma empresa privada, ela sempre explorou patrimônios que são públicos: o amor do brasileiro pelo futebol e o patriotismo que sempre ostentamos ao torcer pelo Brasil.

Não é pouco e tem mais. A CBF tem o monopólio de representar uma nação inteira, de carregar no peito o seu nome, seu valores e sua história. Não podemos mais ser representados pela bandidagem. É melhor ficar de fora da brincadeira.


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