Folha de S. Paulo


Santo Tinder

Sábado, fui madrinha de casamento de uma amiga, a quem obriguei a entrar no Tinder. E foi lá que ela conheceu um cara bacana, querido, gato. Contei isso na semana passada no Facebook e o post recebeu uma enxurrada de comentários de pessoas relatando suas experiências ou de gente próxima que encontrou o tal amor da vida pela internet.

Porque é isso. O amor da vida a gente encontra em qualquer lugar, inclusive na internet. E seu eu fosse solteira, teria a coleção toda de aplicativos no meu celular. Tinder, Happen, Baddo, Par Perfeito, Kickoff, E-Harmony e o que mais surgisse por aí.

As pessoas reclamam que estão sozinhas, mas não são capazes de mexer a bunda da cadeira, o touch do celular, o mouse do computador para mudar sua situação. As regras da vida mudaram muito. Ninguém mais tem garantia do que pode acontecer. De que vai nascer, crescer, estudar, namorar, levar meia dúzia de pés na bunda, casar, financiar um apartamento, ter filhos e torcer para que no meio disso tudo tenha a sorte de ser feliz.

Cada vez mais um número maior de pessoas vai passar pela vida sem encontrar a tampa da panela. Por outro lado, isso só vai acontecer por vontade própria, por falta de sorte ou por preguiça. Claro que dá preguiça. Muito melhor seria se a gente encontrasse o amor atravessando a rua e nesse momento tocassem trombetas e o céu se iluminasse.

Infelizmente não é assim.

Mas felizmente está muito melhor. As possibilidades se multiplicaram. A gente pode contar mais do que com a sorte de conhecer alguém legal no boteco, no trabalho, na fila do banco. Mas não dá para ter preguiça.

Estamos em 2015, a forma de se relacionar ou pelo menos a forma de começar a se relacionar mudou. Claro, nada substitui o olho no olho, a mão naquilo e aquilo na mão. Mas essa pode simplesmente ser uma segunda etapa na hora de conhecer alguém.

Nunca foi tão fácil conhecer gente. Gente de todo tipo. Bonita, feia, magra, gorda, vegana, carnívora, atleta, nerd, tatuado, freak, careta. O cardápio é grande. E é sensacional que exista um cardápio. Gostei. Não gostei. Gostei. Não gostei. Não sei se gostei. Será que gostei?

Tem quem reclame que pela internet só se meteu em furada, que é muito impessoal, que parece coisa de gente desesperada, que fica feio se alguém na firma souber que você está pegando gente em aplicativos.

Desculpa, tudo desculpa.

Não há vergonha alguma em querer ter alguém. A não ser que você seja casado e as amigas da sua mulher deem de cara com você ciscando na internet. Uma pessoa que quer namorar, casar ou só se divertir e usa aplicativos não está desesperada. Ela só quer namorar, casar ou se divertir e é bastante esperta pra não ter preconceito e usar essas ferramentas.

Finalmente –e de uma vez por todas. Gente boa ou cafajeste tem em qualquer lugar. Não é exclusividade da internet. Nem na vida "real" as pessoas vêm com certificado de idoneidade. A pior relação que tive na vida foi com um cara apresentado por uma amiga. Tínhamos vários amigos em comum. O que não me livrou de ter que lidar com um fulano safado, mentiroso e egoísta.

Entendo que para muitas pessoas lidar com novas tecnologias seja um certo desafio. Mas não entendo que o mesmo tipo de gente que desdenha os aplicativos de relacionamento, ache mais seguro ir para balada, se atracar com um desconhecido, que pode ser um estelionatário ou gostar de bater em mulher.

Então, pra você aí que acha que Tinder, Happen, Par Perfeito e o escambau não são para você, porque talvez você se ache o último biscoito do pacote ou porque isso é coisa de gente desesperada ou porque você acha que internet é muito impessoal, só digo uma coisa: acorda, que dá tempo. Quem anda fazendo milagre não é santo Antônio, é santo Tinder.


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