Folha de S. Paulo


Sorry, Rio

Ainda que se diga que Toronto se preparou e investiu dinheiro como se fosse sediar uma Olimpíada, a repercussão mesmo no quintal pan-americano não se compara ao buchicho que o evento do Rio terá no próximo ano.

Uma grande injustiça. Toronto é uma cidade subestimada. Não conheço ninguém que sonhe em tirar férias por aqui ou que pegue um avião para passar uma semaninha por esses lados, para onde têm voos diretos de Rio e de São Paulo. Muito diferente do Rio, que é praticamente um símbolo sexual. Todos querem. Todos sonham.

A capital carioca está um canteiro e quem mora lá, como eu, sabe o caos que tem sido circular com tudo que está sendo feito. Reclamo pelo hábito de reclamar, mas, antes na marra do que nunca, as melhorias que a cidade vai ganhar e que já deveriam existir na largada para quem quer sediar uma Olimpíada.

Mas vamos ao que interessa. Mesmo que tudo fique pronto, ainda que a gente já saiba que algumas coisas, como a despoluição da Baía da Guanabara, não sairão nem do papel, o Rio parece uma província se comparado a Toronto.

Toronto é uma mini-Nova York. Mais cosmopolita do que Nova York. Cerca de metade das pessoas que vivem aqui nasceu em outras cidades ou em outros países. Esse aspecto multicultural por si só torna o lugar muito interessante. Mas não é só isso. É uma cidade que já era legal e que só ficou ainda mais com as melhorias trazidas para os Jogos. Como eu sei? Estudei três meses aqui em 1998 e volto agora, 17 anos depois. Só melhora. Tudo funciona.

Está menos pacata do que era, mas não perdeu o que tinha de melhor. Peguei um barco ontem e fui até Toronto Island, uma ilha artificial construída no lago Ontário, repleta de trilhas para caminhadas, lugares para piqueniques etc. É de lá a melhor vista do skyline da cidade. E que skyline.

Um emaranhado de prédios modernos, erguidos em ruas organizadas, em torno de praças, restaurantes descolados e todo tipo de loja que se encontra em Nova York, mas não no Rio. Com os Jogos, ganhou uma orla totalmente repaginada.

O transporte público é eficiente, tem sistema também público de aluguel de bicicletas, mas andar na cidade, que tem um centro, de certa forma compacto, é a melhor forma de explorar as redondezas. Nem cansa porque é tudo bonito e plano.

Vou chegar na parte que é quase uma covardia: segurança. Aqui, as pessoas andam na rua falando ao celular, abrem seus computadores em praças. O índice de criminalidade de Toronto é o menor entre 33 cidades canadenses, segundo dados do Statistics Canada.

Antes que algum carioca ofendido me mande voltar para São Paulo, gostaria de esclarecer que eu não sou paulistana e que, no momento em que escrevo esta coluna, um homem foi baleado e morto na estação de metrô Uruguaiana, no Rio.

Dizem que o sucesso da Copa do Mundo no Brasil se deu principalmente pela receptividade das pessoas. Mas nem isso o torontiano fica devendo. Experimente abrir um mapa com cara de perdido para receber ajuda quase imediata. Experimente conversar com quem quer que seja e lá se vão 15 minutos.

Sinto pelos atletas que não terão tanto tempo disponível. Vão perder o melhor da festa, que é conhecer mais o lugar onde a festa está sendo feita. Toronto está de parabéns.

Não tenho dúvida de que a Olimpíada será um sucesso, haja vista a venda de ingressos. Mas, sorry, Rio, em termos de infra e de cidade você vai levar uma goleada.


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