Folha de S. Paulo


A vaquinha ou o brejo

Pela primeira vez na história –sem tradição, é verdade– do futebol americano no Brasil, a seleção obteve vaga para o Mundial, em Canton, Ohio (EUA), de 9 a 18 de julho.

Por causa de dinheiro, ou melhor, da falta dele, podem ter que cancelar a empreitada. Em janeiro, atletas tiraram do bolso a grana para disputar a fase eliminatória no Panamá, quando veio a classificação.

Agora, novamente, compraram as passagens, mas precisam chegar a R$ 120 mil para pagar a inscrição. Foi aí que veio a ideia da vaquinha. Conseguiram R$ 25 mil, da meta de R$ 40 mil, valor que precisa ser pago à federação internacional ao menos até o começo da competição.

Os jogadores dizem que apenas há duas semanas ficaram sabendo que a confederação brasileira estava com dificuldades para captar os recursos para pagar a inscrição, que cobre os custos com hospedagem, alimentação e deslocamentos de toda a equipe, que tem 45 atletas e oito membros da comissão técnica.

O futebol que faz sucesso aqui é outro, certo? Sim, mas não podemos ignorar alguns eventos recentes para perceber que o futebol ianque está cada vez mais popular no Brasil.

Para quem não está ligando o nome à figura, trata-se daquele esporte praticado pelo marido-gato da Gisele Bundchen. Tom Brady joga na NFL, a principal liga, que tem seu evento mais importante no Superbowl, a final do campeonato.

No Brasil, a ESPN bateu recorde de audiência com o Superbowl este ano. A repercussão nas redes sociais foi muito maior do que na final da Copa do Brasil, entre Atlético-MG e Cruzeiro. O jogo "gringo" teve o dobro de menções no Twitter.

Só pelo feito da classificação, os atletas já mereciam não ter que se preocupar com a parte chata, que são as contas. Mas lá estão eles parcelando passagens e agora, no auge do compreensível desespero, resolveram fazer uma vaquinha.

Ou isso ou o brejo do desgosto de não participar de uma competição dessa importância. Eu me sensibilizei e pinguei uns caraminguás que, espero, façam a diferença. Para quem quiser ajudar, o site é www.brasilnomundial.com.br.

Vaquinha no esporte não é novidade, ainda mais nas modalidades menos populares. Maurren Maggi, campeã olímpica de salto em distância em Pequim, fez vaquinha no ano passado para financiar seu treinamento. A atleta de taekwondo Talisca Reis só foi ao Aberto do Canadá em 2014 graças a doações.

Tem gente do esqui cross country, da esgrima e até do vôlei de praia passando a sacolinha. Todos com a meta alcançada. Agora, é a vez do futebol americano. Antes de torcer para que vençam dentro de campo, torço que conquistem o dinheiro necessário para chegar a ele.

PAN

Nas próximas semanas, a coluna vai cobrir o Pan de Toronto. Acabo de chegar à cidade com meus colegas da Folha. Fizemos o trajeto entre o aeroporto e o centro no novíssimo Union Person Express, trem inaugurado há menos de um mês, a tempo do evento. Igualzinha à promessa de trem-bala para a Copa ou de despoluição da Baía da Guanabara para a Olimpíada. Os jogos nem começaram aqui, mas continuamos levando gol da Alemanha.


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