Folha de S. Paulo


Esportes para ver antes de morrer

Numa estante de livros tenho dois desses que nos desafiam a fazer coisas imperdíveis. Lugares para visitar, livros para ler, restaurantes para comer. Tudo, claro, antes de morrer. Livros que insistem em nos mostrar como nossas vidas são sem graça.

Um dos exemplares é de coisas genéricas, como pular de paraquedas ou ser preso. Sim, ser preso. Ou você acha que os desafios seriam fáceis? O outro livro lista lugares onde deveríamos transar antes de morrer.

Acho válida a ideia, ainda que eu não tenha a menor intenção de passar uma noite no xilindró só pra completar meu álbum de aventuras e sandices. Também não vejo graça em fazer sexo em uma moto, como o livro sugere, mesmo que ela esteja estacionada.

Por que estou falando em encarar uma cana ou fazer sexo na roda gigante? Porque deveria haver um livro que incentivasse as pessoas a assistir uma vez na vida uma partida de Copa do Mundo, uma final de natação, um jogo de basquete da NBA, um campeonato de snowboard. Ao vivo, claro.

Se você tem interesse por uma modalidade, irá naturalmente acompanhar campeonatos pela TV. Não é à toa que há canais que produzem conteúdo exclusivo e assinantes felizes em pagar o acesso a eles. Mas se você não é um big fã de coisa nenhuma, tenha certeza de que está perdendo experiências, se não inesquecíveis, muito divertidas.

Eu sempre achei jogo de tênis, pela TV, mais chato do que as Olimpíadas do Faustão. Tênis não é um esporte que a gente aprende na escola, o Brasil nunca teve tradição. Me lembro de torcer pelo Guga, como todo mundo. Mas continuei com meu interesse restrito a 'quando estamos ganhando' até essa semana.

Fui ao Aberto do Rio, que acaba amanhã, e passei o dia igual a um pinto no lixo. Só o a visita ao evento já vale a pena. Tudo é bonito e organizado. O que transforma a experiência de passar um dia lá muito agradável. Várias vezes me perguntei por que os estádios de futebol não são assim. Lugares agradáveis para comer, estandes bonitos de parceiros, banheiros limpos. Ninguém está esperando que tenha um relógio gigante da Rolex (um dos patrocinadores) na entrada do Itaquerão, mas tudo poderia ser mais atrativo do que é.

Voltando ao torneio de tênis. A arena é confortável e a visão da quadra e dos jogadores, perfeita. Você vê o Nadal de pertinho, mesmo estando na fileira mais distante. Ele puxa a cueca, arruma a camiseta no ombro esquerdo, depois no direito, mexe no nariz, em uma orelha, depois na outra e saca. Todas as vezes que saca. Todas. Cacoete.

O jogo do espanhol é hipnotizante. Ele também. Rafael Nadal é jovem, bonito, simpático e ainda samba na cara da sociedade (ao som do bloquinho ao lado de fora da arena), com um uniforme branco, rosa e amarelo, com direito a listra pink metálica nas laterais do short. Virei fã.

E comecei a pensar que a gente tem que experimentar de tudo no mundo dos esportes por menos intimidade que tenha com eles. Imagine como deve ser um jogo de hóquei subaquático, uma partida de pólo com elefantes ou uma corrida de pombos. Bizarro. Mas quem gosta mesmo de esporte não deveria morrer antes de ver essas coisas.


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